segunda-feira, agosto 03, 2009

257 - Revista Ambiente Construído e artigo AS CORRENTES E O CUIDADO por Marilice Costi - Infohabitar 257

Infohabitar, Ano V, n.º 257

NOTÍCIAS INFOHABITAR seguidas do artigo
AS CORRENTES E O CUIDADO, por Marilice Costi

Antes de passar à edição do artigo da semana, faz-se a divulgação de uma recente e importante edição na WWW de um novo número de uma excelente revista técnica em língua portuguesa.
Trata-se da revista online Ambiente Construído sob responsabilidade da Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído cujo último número (especial) sob o tema "Qualidade do Projeto" foi editado pela Prof.ª Arq.ª Sheila Walbe Ornstein – como é sabido um dos primeiros autores a editar no nosso Infohabitar – e pelo Prof Dr. Carlos Torres Formoso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Como fica bem evidente no tema "Qualidade do Projeto", trata-se de uma matéria de grande actualidade e que é abordada, nesta revista, num amplo e estimulante leque de interessantes artigos, cujos títulos e autores se apresentam em seguida e cujas quase 200 páginas de pdf (s) estão disponíveis, facilmente, já aqui, no link. da revista Ambiente Construído:http://www.seer.ufrgs.br/index.php/ambienteconstruido/index

Apresentação da revista Ambiente Construído, Vol. 9, No 2 (2009)
"Qualidade do Projeto"


. Sumário

. (Parágrafo extraído do Editorial da revista)

“Este número especial da Revista Ambiente Construído tem como tema a Qualidade do Projeto. Pretende celebrar o início das atividades do Grupo de Trabalho em Qualidade do Projeto (GTQP) da ANTAC, constituído em outubro de 2008. Na chamada de trabalhos para este número foram destacados os seguintes temas: briefing e gestão de requisitos; natureza do processo de projeto; criatividade no processo de projeto; definição do escopo de projeto; avaliação de projetos; desenvolvimento do produto na construção civil; práticas profissionais de projeto; coordenação e compatibilização de projetos; modelagem do processo do projeto; processos colaborativos e engenharia simultânea; gestão da qualidade e certificação na atividade de projeto; tecnologia da informação para apoiar o processo de projeto; avaliação pós-ocupação e indicadores de qualidade do projeto.
...”

Sheila Walbe Ornstein, Co-editora convidada, FAUUSP
Carlos Torres Formoso, Editor-chefe, NORIE - UFGRS

Títulos dos artigos editados e respectivos autores:

. Flexibility as a design aspiration: the facilities management perspective
Edward Finch

. Quality of design and usability: a vetruvian twinTheo J. M. van Voordt

. Discussão sobre a importância do programa de necessidades no processo de projeto em arquiteturaDaniel de Carvalho Moreira, Doris Catherine Cornelie Knatz Kowaltowski

. The gaps between healthcare service and building design: a state of the art reviewPatrícia Tzortzopoulos, Ricardo Codinhoto, Mike Kagioglou, John Rooke, Lauri Koskela

. Desenvolvimento integrado de projeto, gerenciamento de obra e manutenção de edifícios hospitalaresMichele Caroline Bueno Ferrari Caixeta, Alexandra Figueiredo, Márcio Minto Fabrício

. Indicadores de qualidade ambiental para hospitais-dia

Patrícia Biasi Cavalcanti, Giselle Arteiro Nielsen Azevedo, Vera Helena Moro Bins Ely

. A natureza do valor desejado na habitação social
Ariovaldo Denis Granja, Doris Catharine Cornelie Knatz Kowaltowski, Silvia Aparecida Mikami Gonçalves Pina, Patricia Stella Pucharelli Fontanini, Lia Barros, Dina de Paoli, Ana Mitsuko Jacomit, Rafaela Massei Rodrigues Maçans

. O processo projetual e a percepção dos usuários: o uso de modelos tridimensionais físicos na elaboração de projetos de habitação socialCésar Imai

. Avaliando a habitação: relações entre qualidade, projeto e avaliação pós-ocupação em apartamentosSimone Barbosa Villa

. Apartamentos paulistanos: um olhar sobre a produção privada recente
Fábio Queiroz, Marcelo Tramontano

. Arquitetura e desempenho luminoso: CENPES II, o novo centro de pesquisas da Petrobras, no Rio de Janeiro, Brasil.
Norberto Corrêa da Silva Moura, Anna Christina Miana, Joana Soares Goncalves, Denise Silva Duarte

Sublinha-se, finalmente, a grande relação entre esta edição e o próximo I Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído [SBQP 2009], que será realizado em São Carlos, São Paulo, de 18 a 20 de Novembro de 2009, em conjunto com o IX Workshop Brasileiro de Gestão do Processo de Projeto na Construção de Edifícios.




O Site deste evento está disponível em:
http://www.arquitetura.eesc.usp.br/ocs/index.php/SBQP2009/SBQP2009

O editor do InfohabitarAntónio Baptista Coelho


Segue-se o artigo da semana no Infohabitar
AS CORRENTES E O CUIDADO
por Marilice Costi, Arquitecta e Investigadora

A primeira pesquisa urbana desenvolvida pelos meus alunos da disciplina Avaliação Pós-Ocupação (Faculdade de Arquitetura da PUCRS) foi com o intuito de descobrir o grau de satisfação dos pedestres em sete das vias de alto tráfego de Porto Alegre, entre elas, a avenida José de Alencar.

Moradora da região no entorno do Parque Farroupilha, eu vivia inconformada com aquelas correntes nos canteiros – sem sinalização – barreiras sem relação alguma com o desenho urbano. Pintadas de verde, à noite especialmente, tornavam-se invisíveis devido à grama nos canteiros. Sua altura também permitia que os transeuntes saltassem por elas, o que era arriscado, devido ao trânsito intenso. Muitas pessoas corriam risco de se machucarem e isso era visto frequentemente pelos comerciantes das regiões. Soubemos que uma pessoa havia sido atropelada por um ônibus ao saltar em uma daquelas correntes e que teria morrido.

O trabalho discente consistiu em formular questões em linguagem coloquial, que foram pré-testadas, e definiram um questionário a ser aplicado em no mínimo trinta usuários em cada ponto de pesquisa. Mais três técnicas escolhidas pelos grupos para ratificar ou não os resultados. Os alunos foram a campo acompanhados por mim para aprenderem a abordar os transeuntes, e observar o entorno e compreenderem a relação entre os pedestres e os canteiros centrais, lugar que se deve ter segurança, com tais correntes.

O resultado da pesquisa não me surpreendeu. O grau de rejeição era alto (muito mais de 45%) o que justificaria a sua remoção. Minha opinião sempre foi esta: basta uma pessoa a correr riscos e eu as removeria. Naquela data, tal pesquisa, por ser de alunos, não poderia ser aproveitada! Só poderia ser aprendizado dos futuros profissionais.

Alguns semestres depois, as correntes ainda me perturbavam. Eu também me perguntava quem era o responsável pelo desenho urbano do canteiro central entre o Centro Comercial Azenha e a Escola Ildefonso Gomes. Sem critério algum de segurança, desconsiderando totalmente o fluxo natural dos moradores do bairro, as correntes ali também impedem o fluxo comum dos moradores. Ao limitarem áreas com arbustos, que bloqueiam também a visibilidade reduzindo a segurança, criam lugares onde podem se esconder assaltantes. Os alunos descobriram que a sua colocação fora definida por algum funcionário do centro comercial, um “jardineiro” contratado para “embelezar” o canteiro central, de onde se tem uma das mais belas perspectivas das palmeiras imperiais em Porto Alegre.





Figura 01 e 02: finalmente, as correntes foram removidas - na imagem restavam apenas as barras de apoio, entre as quais havia correntes verdes.
É na Arquitetura que, compartilhada com a Sociologia, a Geografia, a Antropologia, a Engenharia e outras áreas do conhecimento, que se aprende a construir ambientes adequados ao uso humano. Portanto, projetos desse tipo devem ser projetados pelo arquiteto devido à sua formação e consequente competência para projetar conforme as necessidades espaciais e de circulação dos cidadãos. E ainda, devido à complexidade urbana, coordenar equipe multidisciplinar composta de profissionais de várias áreas. Neste caso, urbana, portanto de responsabilidade de secretarias municipais. Os alunos se deram conta que tais órgãos públicos decidiam cada um por si: SMAM, SMOV, EPTC e outras eram como feudos.

Retomamos a pesquisa urbana das correntes em canteiros centrais no início do novo século pois a dúvida permanecia. Que arquiteto criara aquelas barreiras metálicas “verdes”? A resposta veio da própria projetista: foi para proteger a grama! Infelizmente, não lembro o nome do aluno, foram tantos, que penetrara no âmago do espírito do pesquisador. Acabara o mistério: a projetista fora uma bióloga!

Abrindo o CP de dois de julho próximo, fiz a conta. Mais de dez anos passaram.

Finalmente, a percepção pública que faltava. Ou a decisão. Vinda de um professor, cujo olhar sensível, espero que também siga até o grande canteiro citado acima.
Fundamental é o trabalho do arquiteto ao projetar ambientes com segurança e conforto para as pessoas. O arquiteto, assim como a Prefeitura devem exercer também o cuidado.

Marilice Costi é mestre em Arquitetura, editora da revista O CUIDADOR, membro da ANTARQ e da ALF-RS - Rua Santana, 666/504 - Porto Alegrehttp://www.sanaarquitetura.arq.br/
CREA 41328
Brevíssimas notas do editor:Por sistema preferimos editar os textos o mais possível como me foram enviados o que também aconteceu em mais esta excelente reflexão de Marilice Costi sobre as razões que estruturam partes significativas dos nossos ambientes urbanos e de vida.
Na próxima semana tentaremos voltar a esta matéria, que é afinal a da urgência de termos cidades verdadeiramente amigáveis e estimulantes.

O editor do InfohabitarAntónio Baptista Coelho


Infohabitar, Ano V, n.º 257
Lisboa, Encarnação – Olivais Norte, 3 de Agosto de 2009
Edição de José Baptista Coelho


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