segunda-feira, abril 25, 2011

343 - Arquitecto Luís Cunha e Symposium Digital Fabrication no ISCTE -IUL, vencedores do Desafio Global On-line Moradia Ideal - Infohabitar 343

Infohabitar, Ano VII, n.º 343

Notas do editor:

O nº 343 do Infohabitar, editado a seguir ao Domingo de Páscoa: (i) divulga a excelente e próxima iniciativa do Departamento de Arquitectura e Urbanismo (DAU) do ISCTE-IUL, relativa aos colóquios e à exposição sobre a obra do Arquitecto Luiz Cunha, no dia 4 de Maio; (ii) faz uma primeira divulgação pormenorizada d um evento, também a não perder, que será realizado em Setembro de 2011, também no DAU do ISTE-IUL, o Symposium Digital Fabrication - a State of Art (simpósio cuja realização iremos acompanhando com detalhe), e (iii) faz as pontes de divulgação para os três premiados e dos 11 finalistas do Desafio Global On-line Moradia Ideal: Colaboração Para Cidades Mais Inclusivas e Sustentáveis, uma iniciativa da responsabilidade dos Changemakers da Ashoka.

(i) Colóquios e exposição sobre a obra do
Arquitecto Luiz Cunha

Divulga-se um convite para os colóquios e a inauguração da exposição acerca da obra do Arquitecto Luiz Cunha, no dia 4 de Maio, organizados pelo Arquitecto Paulo Miranda, o Departamento de Arquitectura e Urbanismo e a Reitoria do ISCTE-IUL. Esta iniciativa resulta da doação a esta escola do espólio pessoal do Arquitecto Luiz Cunha.

Será ainda apresentado, no dia 4 de Maio, um conjunto de trabalhos, sobre quinze obras do Arquitecto Luiz Cunha, realizados pelos alunos da disciplina de História da Arquitectura Portuguesa, do DAU do ISTE-IUL, sob orientação da Professora Ana Vaz Milheiro.

Será com enorme prazer que a Reitoria e o Departamento de Arquitectura e Urbanismo do ISCTE-IUL vos receberão.

Vasco Moreira Rato
Director do Departamento de Arquitectura e Urbanismo do ISCTE-IUL
Avenida das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa Portugal, http://iul.pt/

Programa:
Exposição e debate “A obra de LUIZ CUNHA”

CONVITE

O Reitor do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Professor Luís Antero Reto, convida V.Exa para os seguintes eventos a decorrer no Auditório B104 do Edifício II no dia 4 de Maio de 2011:

10:00 – Abertura da Sessão pelo Reitor

Assinatura de um protocolo entre o ISCTE-IUL e o Arquitecto Luiz Cunha

10:30 - Colóquio “A Arquitectura, o Urbanismo e a Igreja”

Arquitectos Nuno Portas, Diogo Lino Pimentel e Luiz Cunha

15:00 - “O Desenho, a Arquitectura e os Homens”

Arquitectos Álvaro Siza Vieira, Alcino Soutinho, Carlos Carvalho Dias e Luiz Cunha

18:00 - Inauguração da Exposição LUIZ CUNHA, ARQUITECTURA & ARTES PLÁSTICAS 1957/2011

Sala de Exposições no Edifício II do ISCTE-IUL.



(ii) Symposium Digital Fabrication - a State of Art

O ISCTE-IUL vai realizar o Symposium Digital Fabrication - a State of
Art em Lisboa nos dias 9 e 10 de Setembro de 2011.

Gostaríamos de contar com a vossa presença e solicitar o reencaminhamento desta mensagem para colegas e/ou alunos que possam estar interessados.

O Symposium Digital Fabrication – a State of Art permitirá reunir em Portugal, no ISCTE-IUL, um conjunto de investigadores de referência internacional, no campo da fabricação digital e da Arquitectura. O objectivo é estimular a reflexão e o debate entre profissionais e não profissionais que actuam na área das novas tecnologias, da arquitectura interactiva, da multimédia e da fabricação digital.

Trata-se de um evento da maior relevância face aos novos desafios tecnológicos e de ensino da Arquitectura em Portugal. Pretende-se apontar e partilhar novas metodologias de trabalho, linhas de investigação e profissionalização. O evento é composto por um ciclo de seis conferências e um workshop.

Mais informações sobre o simpósio em http://digitalfabricationiscte.wordpress.com/.

As inscrições já se encontram abertas. http://iul.pt/

A comissao organizadora do simpósio


Fig. 01: Symposium “Digital Fabrication – a State of Art”
Symposium “Digital Fabrication – a State of Art”

Dias 9 e 10 de Setembro de 2011 no ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa

O objectivo deste simpósio consiste na realização de um estado da arte como ponto de partida para o entendimento do que representa a fabricação digital em arquitectura e áreas análogas como design, arte e construção.

Através da fusão entre a arquitectura, a computação e a fabricação amplia-se o campo de pesquisa conceptual e das possibilidades de materialização, impulsionando-se assim uma transformação radical na abordagem das questões arquitectónicas.

Procura-se desafiar os participantes neste simpósio a questionar como a exploração da computação pode contribuir para melhorar o desenho e a performance da arquitectura; como a experiência e percepção do espaço podem enriquecer-se através da integração de tecnologias emergentes da arquitectura; como a forma pode ser gerada e evoluir paramétricamente e, acima de tudo, como tirar partido da modelação digital para produzir objectos físicos diferenciados.

A fabricação digital é um campo de trabalho ainda pouco conhecido e explorado em Portugal nas áreas da arquitectura e no qual apenas alguns investigadores trabalham. Neste contexto, pretende-se que o simpósio seja amplamente divulgado junto da sociedade em geral mas também do público especializado da arquitectura, artes plásticas, engenharia, construção, entre outros de modo a divulgar as potencialidades deste tipo de abordagem ao objecto arquitectónico. O público a quem se destina este simpósio é muito variado e inclui desde projectistas, investigadores, estudantes, técnicos de empresas e indústrias das áreas de arquitectura, engenharia, design.

Por outro lado, o convite feito a alguns dos especialistas mais conceituados internacionalmente na área da fabricação digital e multimédia fará com que a comunidade científica internacional seja também chamada a participar neste simpósio.


Fig. 02: Solar House, Solar Decathlon Madrid 2010, Iaac Barcelona

Os investigadores convidados para proferir palestras no simpósio foram os seguintes:

  •  Kevin Klinger, Ball State University (USA), Director Digital Fabrication, Center for Media Design, I.M.A.D.E. 
  • Vicente Guallart, IaaC Institute for Advanced Architecture of Catalonia (Spain), Director of Iaac
  • Bob Sheil, Bartlett School of Architecture (UK), Director of Technology and Computing
  • Tobias Bonwetsch, ETH Zurique (Switzerland), Research Fellow, Architecture and Digital Fabrication
  • Gabriela Celani, UNICAMP (Brasil), coordenadora do Laboratório de Prototipagem Rápida para Arquitectura e Construção (LAPAC).

Pretende-se que este simpósio constitua o arranque do novo Laboratório de Fabrico Digital do ISCTE-IUL. Este laboratório será uma marca da Escola de Tecnologias e Arquitectura (ISTA) no contexto do ensino, da investigação e da transferência de conhecimento, quer ao nível português quer ao nível europeu. A existência deste FabLab dará uma nova tónica à oferta formativa na área da Arquitectura no ISCTE-IUL e, a utilização deste laboratório ao nível do ensino, será precursora no país à semelhança do que já se faz em outros países europeus e noutros continentes.



Fig. 03: FlexBrick ETH Zurich, 2008-2010, Masonry facade system prefabricated in a robot-based manufacturing process

  O simpósio está dividido em duas partes: um ciclo de conferências temáticas e um workshop.

Com o ciclo de conferências pretende-se oferecer uma visão transversal da importância da fabricação digital nas suas várias valências. Primeiro prevê-se uma abordagem global à importância da fabricação digital na arquitectura seguida de dois exemplos de aplicação prática: Solar House, Solar Decathlon Madrid 2010, Iaac Barcelona (Figure 1) e FlexBrick ETH Zurich, 2008-2010 Masonry facade system prefabricated in a robot-based manufacturing process (Figure 2). No final prevê-se a partilha de experiências pedagógicas aplicadas no Brasil e no Reino Unido.

O workshop “Explorações Digitais > Realidades Materiais çDigital Explorations > Material Realities” fornecerá a um público alargado (estudantes, profissionais e não profissionais) a possibilidade de experimentar e ensaiar novas metodologias de aproximação aos temas expostos no ciclo de conferências. O curso teórico-prático de 7,5 horas, ministrado em português, será composto por 2 módulos. No primeiro módulo expõe-se e experimentam-se técnicas de modelação paramétrica com utilização de sistemas CAD-CAM e no segundo módulo experimentam-se técnicas de prototipagem-rápida. Procura-se aplicar técnicas de fabricação digital através de produção por corte a laser ou fresadora, preparando um modelo sólido para fabricação 3D.

  Mais informações sobre o simpósio podem ser encontradas em http://digitalfabricationiscte.wordpress.com/ e no facebook.

As inscrições são limitadas e já se encontram abertas. Para proceder ao registo devem ser seguidas as indicações contidas no site do evento na secção Registration.

A este evento foram atribuídos pelo Conselho Regional de Admissão da Ordem dos Arquitectos, 3 créditos ao simpósio e 8 créditos ao workshop.


A comissao organizadora do simpósio

Local:

ISCTE - Lisbon University Institute

Av.ª das Forças Armadas – 1649-926 Lisboa, Portugal

Tel: 00 351 217 903 000

Fax: 00 351 217 903 964

E-mail: digital.fabrication.iscte@gmail.com


Comissão científica:
Alexandra Paio (ISCTE/ADETTI)
Ricardo Resende (ISCTE/LNEC)
Maria João Gamito (ISCTE/FBA)
Miguel Sales Dias (ISCTE/Microsoft)
Nancy Diniz (Bartlett/ISCTE)
Sara Eloy (ISCTE/ADETTI)
Vasco Rato (ISCTE/DINAMIA-CET)


Comissão organizadora: Alexandra Paio (ISCTE/ADETTI)
Ricardo Resende (ISCTE/LNEC)
Sara Eloy (ISCTE/ADETTI)
Hugo Coelho (ISCTE)
Maria João Oliveira (ISCTE)
Luís Carvão (ISCTE)

 
(iii) Resultados do Desafio Global On-line Moradia Ideal: Colaboração Para Cidades Mais Inclusivas e Sustentáveis, uma iniciativa da responsabilidade dos Changemakers da Ashoka.

Atualmente metade da população do mundo vive em áreas urbanas. Em 2050, três de cada quatro pessoas no mundo viverão em cidades, uma vez que milhões de pessoas continuam a migrar para áreas urbanas em busca de oportunidades. As cidades, como motores da economia global, oferecem empregos e condições de vida a esses migrantes. Esses novos moradores, por sua vez, oferecem um conjunto diversificado de capital humano, talento, empreendedorismo e inovação a partir do qual as cidades podem fazer crescerem suas economias.

A maioria das cidades, em particular nos países em desenvolvimento, não está preparada para este crescimento dramático. Estima-se que um bilhão de pessoas viva atualmente em favelas, em sua maioria como resultado de planejamento inadequado, políticas pobres, fracassos do mercado e lacunas na capacidade governamental.

As cidades que desenvolverem estratégias para suprir a carência crítica de moradias acessíveis, sustentáveis e inclusivas e enfrentarem o desafio das restrições de energia e das mudanças climáticas, elevarão os padrões de vida, criarão comunidades mais agradáveis e reduzirão seu impacto ambiental.

Em antecipação à Cúpula das Américas de 2012, e em apoio à iniciativa Parceria de Energia e Clima das Américas (ECPA) do presidente dos EUA Barack Obama, o Changemakers da Ashoka lançou um desafio global intitulado Habitação Urbana Sustentável: Colaboração para Cidades mais Inclusivas e Agradáveis.

Esse desafio busca inspirar inovações destinadas a sanar a ausência de moradias adequadas e inclusivas e modelos pioneiros e sustentáveis de eficiência energética para o design de moradias, construção, uso da terra, planejamento de comunidades, finaciamento criativo de moradias, envolvimento da comunidade e políticas públicas. O desafio é financiado pela Fundação Rockefeller e um esforço conjunto do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA, o Departamento de Estado dos EUA e American Planning Association.

O desafio tem foco na região da América Latina e Caribe, a região mais urbanizada dos países em desenvolvimento, em um esforço de ofertar exemplos e oportunidades para o resto do mundo. Busca por soluções, políticas e ideias integradas que sejam criadas em conjunto com populações urbanas de baixa renda e populações historicamente marginalizadas. Também busca encontrar modelos para colaborações efetivas e significativas que integrem o trabalho de líderes comunitários, planejadores urbanos, acadêmicos, especialistas em transportes, instituições financeiras e de crédito, profissionais de arquitetura e de políticas públicas e governos locais.

O desafio busca em especial identificar soluções que respondam a necessidades de comunidades, trabalhem com a infraestrutura existente, respeitem a cultura, materiais e práticas nativas locais e possam ser aplicadas em um amplo espectro de locais. Os participantes são estimulados a considerar estratégias que incorporem gestão e direitos territoriais, novas tecnologias, transporte, finanças, crédito para populações de baixa renda, e padrões para acessibilidade, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, saúde, segurança pública, qualidade ambiental e segurança dos cidadãos.

As melhores inscrições são colaborações que incorporam ideais acessíveis, inclusivas e sustentáveis com planos tangíveis para serem adaptadas e implantadas em ambientes urbanos. Essas inscrições serão apresentadas e revistas em um evento que encerra o desafio em junho de 2011 no National Building Museum em Washington, D.C., EUA.

Vencedores anunciados!


Zero Waste, Sustainable Architecture, Renewable Energy: unlimited source of renewable materials for sustainable housing, Rafael Ribeiro, Brasil, Sao Paulo

Green Development Zone, Aaron Bartley, Estados Unidos , New York, Erie County

Finalistas

Building a Culture of Earthquake Resistant Construction Practices Among Day Laborers in Haiti
Peter Haas, Haiti

Transforming the low-income housing development paradigm, Centro de Transporte Sustentable de México, México, Aguascalientes

micro Home Solutions: Safe & affordable home upgrading in low income urban India, Rakhi Mehra Índia, Delhi

Kibera Public Space Project: sustainable housing through 'productive public space', chelina odbert, Quênia

Social franchising for development of sustainable housing at the bottom of the pyramid, Francesco Piazzesi,
México, México

Slum Networking – Transforming Slums and Transcending Poverty without Aid with an Innovative Water and Sanitation Paradigm.Himanshu Parikh Índia

Sume Materiales (‘Incorporate materials') - Reutilization of materials to facilitate access to housing, María Itatí Cabral, Argentina, Buenos Aires Province

Programa Bem Morar, Leonora Mol, Brasil, Espirito Santo

Notas editoriais:

(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.

(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.

(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.



Infohabitar a Revista do Grupo Habitar

Editor: António Baptista Coelho

Edição de José Baptista Coelho

Lisboa, Encarnação - Olivais Norte

Infohabitar, Ano VII, n.º 343, 25 de Abril de 2011

domingo, abril 17, 2011

342 - A privacidade arquitectónica no habitar - II - Infohabitar 342

Infohabitar, Ano VII, n.º 342

Novos comentários sobre a qualidade arquitectónica residencial
Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XI:
A privacidade arquitectónica no habitar - II

Artigo de António Baptista Coelho

NOTA IMPORTANTE: POR SE TRATAR DE UM ARTIGO COM MAIS DE 20 PÁGINAS FOI DIVIDIDO EM DUAS PARTES TENDO SIDO EDITADO NA PASSADA SEMANA E COM EDIÇÃO CONCLUÍDA NA PRESENTE SEMANA, JUNTANDO-SE UM ÍNDICE PARA ORIENTAÇÃO DOS LEITORES:

A BOLD/NEGRITO A PARTE DO ARTIGO EDITADA ESTA SEMANA.

Habitação e Arquitectura XI: A privacidade arquitectónica no habitar- Parte II

Índice

1 - Entre privacidade e convivialidade, um equilíbrio vital

2 - Sobre a natureza da privacidade arquitectónica residencial

3 - A estruturação da privacidade: velhas e novas ideias

4 - A privacidade, da habitação, à vizinhança e ao bairro

5 - A privacidade arquitectónica residencial ao nível urbano: como base de concepção tipológica habitacional

6 - A privacidade nos espaços domésticos e edificados versus a espaciosidade nos espaços públicos


6.1 - A privacidade nos espaços públicos


6.2 - A privacidade na vizinhança de proximidade e na relação desta com os edifícios


6.3 - A privacidade nos espaços edificados


6.4 - A privacidade nas habitações

7 - Carácter e importância específica da privacidade


8 - Notas de reflexão e para desenvolvimento sobre a privacidade arquitectónica residencial


Fig. 09



6 - A privacidade nos espaços domésticos e edificados versus a espaciosidade nos espaços públicos

A privacidade tem naturalmente uma expressão significativa ao nível dos espaços domésticos privativos, e nestes, especificamente, nas zonas de quartos de dormir, associando-se neste caso a variados aspectos de conforto ambiental, designadamente, em termos de isolamento de ruídos e de controlo de acessos e de vistas potencialmente intrusivas.

Uma outra importante dimensão da privacidade doméstica prende-se com o relacionamento entre fogos e entre estes e espaços comuns do edifício e espaços urbanos contíguos; salientando-se os aspectos de controlo visual e de acesso e também os aspectos de isolamento sonoro.

Ao nível urbano a privacidade assume, essencialmente um carácter de definição articulada de territórios de vizinhança semi-públicos e que, consequentemente, acabam também por serem semi-privados do condomínio ou conjunto de condomínios; mas que esta afirmação não seja mal entendida como defesa do condomínio privado, este terá com certeza o seu lugar, mas estão aqui a comentar-se qualidades residenciais de arquitectura urbana e esta não se pode construir com este último tipo de condomínios, sendo perfeitamente possível garantir um equilibrado sentido de posse territorial e uma certa envolvência protectora sem se excluir a possibilidade de penetração pública, que, de certa forma, pode ser positiva e “ambientalmente” controlada, através de uma forte relação de contiguidade e proximidade entre espaço público e vãos domésticos e mediante uma escala de intervenção humanizada, que faça relacionar, muito directamente, determinados espaços públicos a determinados conjuntos de habitações, numericamente reduzidos e com presença evidenciada (ex. Quarteirões da Coohafal na Madeira, Quarteirão unifamiliar em Telheiras).

Tudo isto nos encaminha para a excelente possibilidade de podermos usar e habitar intensamente os espaços públicos da cidade e ao fazê-lo marcando-os, de certa forma, com algum sentido de “privacidade”, numa perspectiva de uso individualizado e caracterizado, seja mesmo individual, seja “individualizado” como apropriação por parte de um dado grupo de habitantes relativamente reduzido e conhecido.

E não tenhamos dúvidas de que habitamos, ou deveríamos habitar, verdadeiramente, troços estruturantes da cidade, e assim julgam-se bem oportunas as palavras de Elias Canetti, quando este escritor refere que: “para nos sentirmos confiantes numa cidade estranha precisamos de um espaço fechado sobre o qual exerçamos um certo direito e onde possamos estar sós... Nada, como desaparecer num beco sem saída, nada como ficar parado diante de um portão, do qual guardamos a chave no bolso... Entramos na frescura da casa. Fechamos o portão atrás de nós. Está escuro e por instantes nada vemos... Mas rapidamente recuperamos a visão. Avistamos então as escadas de pedra que conduzem ao andar de cima, e onde encontramos um gato. Gato que incarna o silêncio pelo qual ansiávamos. E ficamos-lhe gratos por estar assim tão silenciosamente vivo.” (3)

Fig. 10


6.1 - A privacidade nos espaços públicos

Ter privacidade nos espaços públicos é ter aí uma relativa capacidade de isolamento, de sossego e de contemplação, eventualmente, da natureza, por exemplo num banco público recolhido mas não segregado (excessivamente isolado e até inseguro).

Mas uma tal capacidade de relativo isolamento também se pode exercer sobre a própria animação urbana, por exemplo, num recanto de uma esplanada bem localizada ou mesmo através de uma “montra” de café (ex., Alvalade). E é também possível numa pequena bancada em que se assiste a um jogo amigável ou através de pequenos percursos de passeio em zonas verdes fisicamente marginais ou até polarizadoras (ex. Olivais Norte).

Afinal e quase em “contra-senso” acabamos por localizar diversas possibilidades de privacidade em pleno espaço público; e não será este um dos segredos da riqueza do meio urbano? Mais uma forma de acentuarmos a diversidade e a surpresa num meio agradavelmente uniformizado ou ordenado (ordenamento e diversidade, ordenamento e surpresa).

Fig. 11

6.2 - A privacidade na vizinhança de proximidade e na relação desta com os edifícios

Ao nível urbano a privacidade assume, essencialmente, um carácter de definição articulada de territórios de vizinhança semi-públicos, caracterizadamente residenciais e intimistas, porque claramente associados a determinados e bem delimitados conjuntos habitacionais; e mais uma vez se sublinha que esta “boa delimitação” nada tem a ver com a definição de condomínios privados, pois este além de delimitarem excluem todos os citadinos do seu uso, com excepção dos próprios habitantes do respectivo condomínio.

E é na relação estreita, tantas vezes de continuidade, entre edifícios e exteriores por eles demarcados ou mesmo “abraçados”, que se podem desenvolver excelentes condições de privacidade no exterior, numa condição cuja ambiguidade será sempre factor de reforço do seu efeito, numa situação que podemos ilustrar com uma imagem de “O jardim secreto” , de Frances Hodgson Burnett (4): “ Depois entrou e fechou-a atrás de si, olhando à sua vola, ofegante de emoção, espanto e alegria. Estava dentro do jardim secreto. Era o sítio mais doce e misterioso que se possa imaginar. Os muros altos que o cercavam estavam cobertos com os troncos sem folhas das rosas trepadeiras ... Realmente, era diferente de qualquer outro lugar por ela visto até então. – Está tudo tão silencioso! – murmurou. – Tão silencioso!”

E muito haverá a dizer sobre este sentido de secretismo e de silêncio, quando aplicado ao exterior: trata-se, muito provavelmente, de toda uma outra dimensão praticamente inexplorada no que se refere a uma verdadeira qualidade do habitar e à habitação “para todos”.


Fig. 12

6.3 - A privacidade nos espaços edificados

A privacidade nos espaços edificados é aquela que, habitualmente, se considera como sendo a única privacidade residencial, mas, como tem sido apontado, ela corresponde apenas a uma parte, embora importante, da privacidade no habitar.

Ter, ou não ter, privacidade nos espaços comuns do edifício é uma opção que se faz no próprio desenvolvimento dos respectivos espaços comuns e das relações de visibilidade mútuas que são possíveis entre as habitações do edifício e relativamente aos espaços públicos contíguos e próximos, dependendo de aspectos de morfologia urbana e, naturalmente, da escolhas das tipologias de acessos comuns dos edifícios e da pormenorização dos vãos domésticos e abertos em espaços comuns; havendo, por exemplo, situações em que a fruição do ar livre e da comunicabilidade com os espaços públicos justifica galerias de acesso exteriores.

E há grande diversidade de situações possíveis: tipologias de espaços comuns; orientação de espaços domésticos; e tipologias de espaços exteriores de vizinhança de proximidade.


Fig. 13

6.4 - A privacidade nas habitações

Ao nível do espaço familiar e relativamente ao exterior público, a espaços comuns do edifício e a outros fogos, a privacidade é, naturalmente, uma qualidade essencial, que pode ter, no entanto, agradáveis excepções, com privacidades filtradas ou direccionadas, em zonas exteriores privativas térreas ou elevadas, ou através de zonas comuns bem desenhadas que podem até, por exemplo, simular o urbano a uma escala mais privada (ex. galerias/ruas de acesso a fogos e espaços comuns exteriores bem delimitados e de protecção térrea).

Salienta-se, ainda, que este nível de privacidade tem fortíssimas implicações ao nível da morfologia e arquitectura urbanas, sendo, infelizmente, frequentes as soluções que não cumprem realmente adequadas condições de privacidade mútua.

Ao nível do interior da habitação a privacidade, como a convivialidade, deve ter “santuários” perfeitamente protegidos, assim como espaços ou recantos onde seja possível estar mitigadamente “sozinho” ou acompanhado; e, tal como no caso deste tipo de convívio doméstico, há que trabalhar bem os respectivos aspectos funcionais, dimensionais e de conforto ambiental, até porque as novas funções domésticas o exigem claramente, seja em termos de se facilitarem as actividades domésticas correntes, seja no suporte a “novas” actividades domésticas com forte cariz individual e privatizados.

Esta última matéria tem um claro expoente no trabalho profissional em casa, realizado num “recanto” ou num “escritório doméstico”, actividade cada vez mais frequente, muito facilitada pelos novos meios informátivos e de comunicação, mas que exige naturalmente fortes condições de privacidade e mesmo de alguma (ou total) autonomia.

No que se refere ao interior doméstico há que repensar a influência que os novos modos de vida e de uso da casa podem ter na organização e na caracterização dos fogos; e nesta matéria, que exige uma eficaz actualização de estudos, é muito provável que se chegue a uma renovada importância de cinco aspectos, ainda muito pouco frequentes nas soluções habitacionais disponibilizadas, seja “de interesse social”, seja de “mercado livre”:

• A cozinha-espaço de família considerada como pólo doméstico funcional e de convívio – assim apontada no Magazine L’ Express, por Monique Eleb, em 1998 (5); mas para tal há que dotar a cozinha de adequadas condições espaciais, funcionais e ambientais.

• A inexistência de uma rígida e gradual hierarquização de privacidades: desde a entrada na habitação até à designada “zona de quartos”; sendo a alternativa uma organização interna passivamente adaptável.

• A relativa ou mesmo total autonomização de um quarto/”suite”, que pode ser um espaço de prática profissional.

• A multifuncionalidade dos espaços de circulação.

• A adaptabilidade na compartimentação, por escolha, por exemplo, entre uma sala-comum maior, ou mais pequena e mais um quarto.

• A renovada importância de um exterior privativo com verdadeiras valências domésticas.


Fig. 14

7 - Carácter e importância específica da privacidade

A privacidade é uma qualidade cuja subjectividade é fortemente aparente, pois decorre de relações de visibilidade mútua e de distância inter-pessoal com eventuais reflexos directos, por exemplo, no afastamento entre edifícios e na respectiva pormenorização arquitectónica, o que basta para fazer salientar a sua importância.

Tal como se referiu, logo no início desta reflexão, a privacidade e a convivialidade são aspectos fortemente complementares no contexto residencial e urbano, e que interagem muito positivamente, numa gradação de territórios e de limiares, desde a cidade animada e anónima ao recanto individualizado e apropriado, de onde até pode ser possível observar calmamente a cidade animada; esta é uma possibilidade motivadora e importante desde que se baseie numa clara possibilidade de escolha: sítio mais animado; sítio mais vicinal; sítio mais sossegado, íntimo e apartado/autonomizado.


Fig. 15

8 - Notas de reflexão e para desenvolvimento sobre a privacidade arquitectónica residencial

Em termos de reflexão geral apuram-se, para já, os seguintes aspectos.

Esta reflexão sobre “a boa privacidade” individual doméstica, pode ser, de certa forma, estendida e ampliada ao que se poderá entender por uma boa privacidade da totalidade do espaço doméstico, relativamente a outras habitações e a espaços públicos envolventes; uma privacidade da totalidade do espaço/unidade “fogo”, que ultrapassa claramente os simples aspectos de proximidade ou mesmo intrusão visual ou física, pois aqui devemos tratar e incluir matérias como a diversidade tipológica, a relação interior/exterior, a marcação e identificação de vãos exteriores, a escala e a possível/desejável humanização das soluções edificadas e a própria expressão da presença/identidade de cada unidade habitacional.

Nesta perspectiva podemos, talvez, afirmar, que determinadas soluções urbanas e habitacionais cuidadosamente constituídas, configuradas e pormenorizadas poderão propiciar proximidades visuais e físicas entre habitações, que resultam em relações de privacidade mais positivas e bem toleradas, do que outras soluções urbanas e habitacionais, até, eventualmente, mais espaçosas e, mutuamente, mais desafogadas/separadas, entre habitações, mas produzindo efeitos finais em que a respectiva falta de privacidade é mais sentida como aspecto negativo na vivência diária local e portanto pouco tolerado e até potencialmente gerador de insatisfação residencial crítica.

E a própria questão do espaço mínimo tem muito a ver com uma expressiva humanização do habitar, directamente relacionada com a ergonomia e o sentido de “espaço concha” ou “espaço toca”, tendo assim a ver, indirectamente, com um sentido lato de privacidade, ligada ao assumir da casa como “segunda pele”, ou a “casa caracol”, referida por Amália Rodrigues, “restituindo-se à casa e ao habitar um papel especial, de pausa e de silêncio, que se traduz num espaço mínimo voluntariamente racionalizado”, tal como defende Alessandra Segantini (2004) (6). Matérias estas que terão de ficar para outros desenvolvimentos, mas que, desde já, se comenta, exigirem excelente Arquitectura, caso contrário mais vale ficarmos pelas receitas tipológicas consolidadas.

Em termos dos desenvolvimentos considerados mais interessantes nestas matérias da privacidade urbana e residencial, salientam-se os seguintes temas de estudo.

Importa aprofundar a questão da identificação dos patamares mínimos e recomendáveis de espaciosidade doméstica a partir dos quais, e respectivamente, não haverá problemas críticos de falta de privacidade ou serão possíveis adequadas condições de apropriação espacial, que resultem no apoio ao desenvolvimento individual, através de estimulantes relaçãoes de privacidade mútua no uso do espaço doméstico.

• Em termos dos problemas críticos que há que encarar nestas áreas tipológicas mais inovadoras e que exigem abordagens específicas, podem-se apontar, designadamente, os seguintes:

• A necessidade de uma continuidade de atenção para com os “velhos” aspectos ligados aos níveis mínimos de habitabilidade (7) e aos modos como estes aspectos se ligam às escolhas e caracterizações tipológicas.

• A actual necessidade de novos tipos de habitar; não é já, apenas, a questão das tipologias para pessoas sós, aliás ainda não devidamente considerada, mas também a questão de tipologias para pessoas sós com problemas específicos, como é o caso, por exemplo, dos sem-abrigo.(8)

• A importância de se ponderarem as variadas consequências negativas, para a cidade e para a vida na cidade, associadas à disseminação dos condomínios com espaços exteriores privativos. (9)

• A questão, que continua muito em aberto, do até onde e como se pode/deve ir em termos de uma densificação urbana e habitacional que possa ser positiva para quem habita e para a cidade habitada; e aqui há, provavelmente, que ter coragem em arrostar contra velhos tabus de densidades, mas há que o saber fazer de forma segura e apoiada, pois é sabido que a fronteira é por vezes pouco visível e até ambígua, entre ambientes urbanos calorosos, vitalizados e humanizados e situações de sobre-ocupação e de ausência de uma fundamental agradabilidade residencial.

• E a questão essencial da integração multifacetada do verde urbano, como elemento humanizador e incentivador do conforto; aspecto este que tem exigências específicas e críticas.

Notas:

(3) Elias Canetti, “As vozes de Marraquexe – Notas de uma viagem”, Lisboa, Publicações Dom Quixote, trad. Isabel Ramalho, 1991 (1988), pp. 43 e 44

(4) Publicações Europa-América, Livros de Bolso, Grandes Obras, trad. Carmo Vasconcelos Romão, 1997, pp. 46 e 47

(5) AAVV, “Cuisine, la nouvelle convivialité”, L’Express, Le magazine , 15 Outubro 1998.

(6) Maria Alessandra Segantini, (dir), “Spazi minimi”, 2004.

(7) Valentina Marcelini, “A menina da casa sem janelas”, Expresso, 1 Junho 2002.

(8) Bárbara Lhansol Massapina Vaz,“Célula habitacional para os sem-abrigo”, Arquitectura e Vida, n.º 56, 2005, pp. 28-31.

(9) Francisco Mangas, “As fortalezas dos novos senhores: Como nas cidades da Idade Média”, Diário de Notícias, 23 Junho 2002.

Notas editoriais:


(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.


(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.


(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.





Infohabitar a Revista do Grupo Habitar


Editor: António Baptista Coelho


Edição de José Baptista Coelho


Lisboa, Encarnação - Olivais Norte


Infohabitar, Ano VII, n.º 342, 17 de Abril de 2011

sábado, abril 09, 2011

341 - A privacidade arquitectónica no habitar - I - Infohabitar 341

Infohabitar, Ano VII, n.º 341

Novos comentários sobre a qualidade arquitectónica residencial

Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XI: A privacidade arquitectónica no habitar - I

Artigo de António Baptista Coelho


Informações:


Lembra-se a sessão que terá lugar na Biblioteca do LNEC, no dia 13 de Abril, pelas 15h 00, sobre a temática da "Ventilação e da qualidade do ar interior", integrando a apresentação do n.º 06 da Série do LNEC, Cadernos Edifícios, pelo seu coordenador editorial, o Investigador do LNEC Eng.º João Viegas e contando com duas palestras, uma pelo Investigador do LNEC Eng.º Jorge Gil Saraiva, e a outra pelo Professor Doutor Arq.º Vasco Moreira Rato, Director do Departamento de Arquitectura e Urbanismo (DAU) do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa (IUL) - entrada livre, limitada à capacidade da sala.

Para mais informações sobte esta sessão basta consultar a edição n.º 340 desta revista, acessível aqui bem próximo.


Nota prévia à presente edição:

Retomando uma série editorial cujo último “capítulo”, sobre a convivialidade arquitectónica residencial, foi editado, há algumas semanas, com os n.ºs 337 e 338 deste Infohabitar, publicam-se agora e serão publuicada na ppróxima semana algumas reflexões sobre a matéria da PRIVACIDADE arquitectónica residencial - numa perspectiva naturalmente aberta ao desenvolvimento dessa reflexão.

Introdução geral

Nas páginas seguintes apontam-se alguns aspectos que têm sido sistematicamente ponderados, na sequência da aplicação dos conceitos ligados aos diversos rumos de qualidade arquitectónica residencial. Não se trata, assim, da sua respectiva e clarificada estruturação, mas apenas da sua ponderação cuidada, considerando, essencialmente, os anos de prática de análise, que já decorreram desde a sua formulação inicial, realizada num estudo do Núcleo de Arquitectura e Urbanismo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, apresentado e discutido numa prova de doutoramento em Arquitectura que teve lugar na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto em 1995, e posteriormente editado pela Livraria do LNEC (ver Fig. 01).

É sempre possível entrar no Infohabitar e aceder, de imediato, ao respectivo catálogo interactivo, onde uma das categorias agrupa todos os artigos dedicados à temática da Melhor Habitação com Melhor Arquitectura (no total serão cerca de 18, sendo 15 sobre as 15 qualidade qualidades consideradas, um de introdução, um de conclusão genérica e outro de conclusão sintetizada e de temas de continuidade).

Regista-se, em seguida, o plano editorial previsto no Infohabitar, que, repete-se, será, descontínuo, alternado por outras edições e realizado à medida da elaboração dos respectivos artigos (a bold os temas já editados):
Infohabitar n.º 290 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura I: Introdução

A matéria da relação e do contacto entre espaços e ambientes é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º 291 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura II: Acessibilidade - facilidade na aproximação ou no trato e desenvolvimento de continuidades naturais por prolongamentos e múltiplas ligações.

Infohabitar n.º 295 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura III: Comunicabilidade - a qualidade daquilo que está ligado ou que tem correspondência ou contacto físico ou visual.

A matéria da caracterização adequação de espaços e ambientes é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º 297 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura IV: Espaciosidade – referida, tanto aos espaços que são extensos e amplos como aos que apresentam desafogo nas suas envolventes.

Infohabitar n.º 316 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura V: Capacidade – que designa e qualifica o âmbito interior (dentro dos limites) ou a aptidão geral, espacial e ambiental, de qualquer elemento residencial.

Infohabitar n.º 318 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura VI: Funcionalidade – referida ao adequado desempenho das várias funções e actividades residenciais.

A matéria do conforto espacial e ambiental é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º 319 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura VII: Agradabilidade – referida ao desenvolvimento de condições de conforto, bem-estar e comodidade, nos espaços e ambientes residenciais.

Infohabitar n.º 323 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura VIII: Durabilidade – qualidade do que dura muito ou, melhor, do que pode durar muito e em excelentes condições de manutenção.

Infohabitar n.º 332 e n.º 333 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura IX: Segurança – o acto ou efeito de tornar seguro, prevenir perigos, (tranquilizar).

A matéria da interacção social e da expressão individual é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º 337 e n.º 338 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura X: A convivialidade no habitar e no espaço urbano – referida ao viver em comum, ao ter familiaridade e camaradagem, à entreajuda natural ou sociabilidade entre vizinhos.

Infohabitar n.º 341 e n.º 342 - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XI: Privacidade – referida à intimidade e capacidade de privança oferecida por um dado espaço num dado ambiente.

A matéria da participação, identificação e regulação é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XII: Adaptabilidade – referida à versatilidade e ao que se pode acomodar e consequentemente apropriar.

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XIII: Apropriação – referida à capacidade de identificação, à acção de "tomar de propriedade", tornando próprio e a si adaptado.

A matéria do “aspecto” e da coerência espacial e ambiental é tratada em termos de aspectos de:

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XIV: Atractividade - a capacidade de dinamizar e polarizar a atenção.

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XV: Domesticidade – referida à expressão mais pública ou doméstica do carácter residencial.

Infohabitar n.º xxx - Melhor Habitação com Melhor Arquitectura XVI: Integração – que é a integração ou integridade de um contexto, e de uma totalidade onde não falta nem um elemento de conteúdo e de relação.

Salienta-se ser possível aprofundar estas matérias num estudo editado pela livraria do LNEC - intitulado " Qualidade Arquitectónica Residencial - Rumos e factores de análise" - n.º 8 da colecção Informação Técnica Arquitectura, ITA 8 - que contém um desenvolvimento sistemático dos rumos e factores gerais de análise da qualidade arquitectónica residencial, que se devem constituir em objectivos de programa e que correspondem à definição de características funcionais, ambientais, sociais e de aspecto geral a satisfazer para que se atinja um elevado nível de qualidade nos espaços exteriores e interiores do habitat humano.

Fig. 01: capa da edição do LNEC " Qualidade Arquitectónica Residencial - Rumos e factores de análise" - ITA 8, Referindo-se, em seguida, o respectivo link para a Livraria do LNEC

http://livraria.lnec.pt/php/livro_ficha.php?cod_edicao=52319.php

Sublinha-se, no entanto, que a abordagem que se faz, em seguida, às matérias da convivialidade, enquanto qualidade arquitectónica residencial e urbana, corresponde ao revisitar do tema, passados cerca de 15 anos do seu primeiro desenvolvimento, e numa perspectiva autónoma, mais pessoal, mais marcada pela prática e razoavelmente distinta, relativamente a essa primeira abordagem.

Refere-se, ainda, que em complemento a esta abordagem qualitativa do arquitectura residencial, o autor desenvolveu uma abordagem dos diversos níveis físicos do habitat e as suas relações mais importantes: envolvente da área residencial, vizinhança alargada, vizinhança próxima, edifício residencial, habitação e espaços e compartimentos habitacionais.

Fig. 02: capa da edição do LNEC "Do bairro e da vizinhança à habitação" - ITA 2, referindo-se, em seguida, o respectivo link para a Livraria do LNEC

http://livraria.lnec.pt/php/livro_ficha.php?cod_edicao=53085.php


NOTA IMPORTANTE: POR SE TRATAR DE UM ARTIGO COM MAIS DE 20 PÁGINAS FOI DIVIDIDO EM DUAS PARTES E SERÁ EDITADO ESTA SEMANA E NA PRÓXIMA, JUNTANDO-SE UM ÍNDICE PARA ORIENTAÇÃO: A BOLD/NEGRITO A PARTE DO ARTIGO EDITADA ESTA SEMANA.



Habitação e Arquitectura XI: A privacidade arquitectónica no habitar- Parte I

Índice

1 - Entre privacidade e convivialidade, um equilíbrio vital


2 - Sobre a natureza da privacidade arquitectónica residencial


3 - A estruturação da privacidade: velhas e novas ideias


4 - A privacidade, da habitação, à vizinhança e ao bairro


5 - A privacidade arquitectónica residencial ao nível urbano: como base de concepção tipológica habitacional

6 - A privacidade nos espaços domésticos e edificados versus a espaciosidade nos espaços públicos

6.1 - A privacidade nos espaços públicos

6.2 - A privacidade na vizinhança de proximidade e na relação desta com os edifícios

6.3 - A privacidade nos espaços edificados

6.4 - A privacidade nas habitações

7 - Carácter e importância específica da privacidade

8 - Notas de reflexão e para desenvolvimento sobre a privacidade arquitectónica residencial


Fig. 03

Privacidade Arquitectónica Residencial

1 - Entre privacidade e convivialidade, um equilíbrio vital

Tal como se referiu, quando se abordaram os aspectos ligados ao convívio, a privacidade e a convivialidade são, no meio residencial e urbano, faces da mesma moeda, e assim pode dizer-se que, numa perspectiva de essencial conjugação, embora diferentemente matizada consoante os níveis físicos (da habitação à cidade), o “novelo” qualitativo integrado pela convivialidade e pela privacidade é responsável pelo expressivo desenvolvimento de adequadas condições residenciais de interacção social e expressão individual.


Fig. 04

2 - Sobre a natureza da privacidade arquitectónica residencial

Muito provavelmente a privacidade é uma das qualidades básicas e mais estruturantes do habitar, considerando nós que a “invenção” da privavcidade terá partido de um sentido de marcação territorial ligada a uma possibilidade de estar em família em adequadas condições de segurança e de bem-estar, pois, afinal, a privacidade é a qualidade do que é íntimo e próprio de um dado grupo de pessoas e, muito frequentemente, de um dado agregado familiar.

E salienta-se, desde já, que privacidade é uma qualidade que se exercita no habitar, seja mediante a capacidade de exclusividade e de identidade, que é oferecida por um dado espaço ou conjunto de espaços domésticos num dado ambiente, seja através de um conjunto de barreiras, filtros, transições, ligações visuais e passagens, entre esses espaços de privacidade e os outros territórios do habitar, que são mais de vizinhança ou mesmo claramente públicos; numa relação que poderá ajudar a explicar a razão de em certos “bairros dormitórios” a privacidade doméstica poder assumir até, por vezes, um sentido quase negativo, associado à percepção de uma falta crítica de vida urbana e a um certo sentido de desterro e de isolamento doloroso.

E assim podemos afirmar que ter privacidade no recanto ou compartimento pessoal é uma necessidade fundamental, que se prolonga por idêntica exigência em cada um dos outros espaços domésticos, e depois por uma gradação de privacidades de grupo caracterizando o edifício, o espaço de vizinhança de proximidade – por exemplo o quarteirão – e, até, o pequeno bairro caracterizadamente residencial, sossegado e intimista onde muitos desejariam morar, desde que contíguo a zonas urbanas vivas e diversificadas. Tem tudo a ver com a intimidade, a interioridade e a auto-afirmação de indivíduos e, por vezes, de grupos.

Podemos referir que a privacidade será, provavelmente, tão importante como a convivialidade na construção de um espaço urbano habitado muito positivo, pois afinal a privacidade doméstica é também uma das fundações dos diversos níveis de urbanidade e proximidade, tal como defendem Chermayeff e Alexander (1), quando apontam que: “Acima de todos os outros um elemento precioso da vida de outrora está em risco de extinção: a intimidade, essa maravilhosa combinação de afastamento, confiança em si próprio, solidão, calma, contemplação e concentração” (p. 23)... Uma forma urbana que tomasse em conta correctamente todas as condicionantes e tensões da nossa época seria capaz de manter uma vida equilibrada, que eliminaria grande parte do desejo de evasão” (p. 35).


Fig. 05

3 - A estruturação da privacidade: velhas e novas ideias

Entre os aspectos que estruturam a privacidade arquitectónica residencial, salientam-se os seguintes:

• Caracterização do lugar e sua significação, designadamente, em termos de: características específicas do lugar, sentido humano e citadino de cada lugar e significado do lugar.

• Relações humanas, por: regulação das distâncias inter-pessoais; e relação espacial no grupo potencial que habita o lugar, considerando-se os diferentes quadros de vida necessariamente existentes – do quadro citadino, ao de vizinhança e ao doméstico.

• Desenvolvimento do espaço pessoal: seja em aspectos básicos de provisão de espaço quantitativamente adequado (claramente acima dos níveis de espaciosidade associados a problemas de saúde), seja no que se refere a uma espaciosidade interior que seja veículo de caracterização sociocultural e etária.

A privacidade tem aplicação intensa e extensa ao nível dos espaços domésticos e da própria caracterização doméstica (domesticidade), constituindo-se como elemento estruturador dos outros níveis físicos mais urbanos.

Estas matérias parecem poder estruturar-se em duas partes fundamentais: um nível urbano, de espaço privado (por exemplo, quintais e pátios, mais, ou menos, encerrados) e de gradações de “sugestão” de intimidade marcando determinadas partes dos espaços de vizinhança e mesmo de pequenas parcelas e “recantos” de espaços assumidamente públicos, como elementos estruturadores de continuidades caracterizadoras de determinadas zonas públicas; e um nível doméstico, onde se identificam, designadamente, as relações de espaciosidade e funcionalidade dia/noite, a progressão de graus de intimidade, a diferenciação de zonas em casos mulfifamiliares e a delimitação de zonas e de graus de privacidade.

Uma terceira parte do habitar, também marcado pelas relações de privacidade, embora de formas talvez mais subtis, é o próprio edifício habitacional multifamiliar, onde é possível e desejável diversificar os respectivos conteúdos em termos de expressão da privacidade doméstica, de cada habitação, e mesmo da relativa “privacidade” de grupo que se pode associar a determinados agregados de habitações e habitantes. Esta é uma matéria com grande potencial de criatividade, lembrando-se, aqui, apenas a título de exemplos significativos, as simples soluções de relação quase directa entre habitações e espaço público, assim como as soluções de reforço da presença do espaço comum do edifício, mas atribuindo-lhe um carácter e um sentido de dignidade e de pormenorização directamente associados a uma expansão, em continuidade, dos respectivos e contíguos espaços domésticos; e também será possível levar um forte sentido de espaço público a espaços comuns de grandes edifícios, reduzindo-se, assim, visual e estrategicamente, a conotação residencial de partes desses edifícios.

Pode-se chegar, assim, com alguma e essencial naturalidade se privilegiarmos uma positiva e evidenciada qualidade de concepção arquitectónica (pois estamos a cruzar matérias muito sensíveis), ao desenvolvimento de “novos” tipos de espaços e de escalas de habitar, salientando-se aquelas soluções em que a casa será pólo de comunicação com o mundo, proporcionando o fundamental “lastro” de confiança e de espaço bem conhecido numa cidade que comece a funcionar um pouco como a extensão do espaço doméstico, podendo este espaço, numa espécie de sinal contrário ou de estimulante vice-versa, assumir sentidos “públicos” parciais pouco verosímeis há poucos anos, por exemplo numa perspectiva corrente de trabalho profissional em casa, condição esta que acarreta fortes implicações no embeber da privacidade e da “convivialidade” ou mesmo “publicidade” (no sentido de recepção de público) na concepção doméstica.


Fig. 06


4 - A privacidade, da habitação, à vizinhança e ao bairro

A privacidade numa perspectiva arquitectónica e residencial qualifica o que é particular e favorito de uma pessoa ou de um dado grupo (mais ou menos restrito) de pessoas que convivem ou tratam de perto, mais ou menos íntima e frequentemente, de acordo, essencialmente, com a natureza e a dimensão desse grupo.

Qualifica também, tanto a apropriação de um dado espaço/ambiente (o tornar próprio e peculiar), como o consequente e natural desenvolvimento de relações profundas e cordiais (de grande afeição) entre os membros do grupo e/ou com o espaço ou elemento que é cenário ou "motor" dessa privança.

A privacidade tem, também, muito a ver, tanto com sentimentos de protecção pessoal e de marcação territorial, como com a defesa e a afirmação da individualidade pessoal (expressão individual) e do carácter do grupo.

Concretiza-se, frequentemente, por oposição simples às características qualitativas do que é público, através do desenvolvimento, tanto do afastamento, como de barreiras em relação ao "resto do mundo".

Mas a privacidade no habitar não pode ser uma receita que se aplica, sempre de uma mesma forma, aos espaços interiores domésticos, pois estes também têm de ser conviviais e estarem selectivamente abertos à vizinhança e à cidade, assim como esta mesma cidade tem de ser selectivamente privatizada, em espaços de convizinhança e em recantos públicos marcados pela intimidade.

Sublinha-se, assim, a relevância de uma cuidadosa e diversificada privatização dos espaços urbanos predominantemente residenciais, e regista-se que, tal como escreveu Rapoport (1977) “a habitação e as suas envolventes são regiões privadas por excelência contrastando com a natureza pública da cidadania como uma totalidade, o Bairro se existe proporciona-nos um elemento mediatizador: semi-público, semi-privado, etc. Se estes elementos falham, o sistema pode falhar. Qualquer cidade pode ser considerada como uma selecção de subsistemas com vários graus de publicidade e privacidade, frontalidade/posterioridade e separados por diversas barreiras e mecanismos… Domínio privado, variável; transições, semipúblico e semiprivado, muito variáveis; domínio público medianamente variável.”(2)


Fig. 07

5 - A privacidade arquitectónica residencial ao nível urbano: como base de concepção tipológica habitacional

A privacidade é um factor muito importante na construção de uma estimulante diversidade tipológica em termos de ofertas de soluções habitacionais, variadamente conjugadas com o espaço urbano.

Nestas matérias tipológicas residenciais e urbanas, e considerando a perspectiva do desenvolvimento de uma ponderada humanização das soluções do habitar, háverá, pelo menos, cinco grandes linhas a desenvolver, nessa perspectiva de conformação e oferta de variadas condições de privacidade, que se apontam, em seguida:

(i) Uma linha de pequenas tipologias, que não excedam o T1 (ex., t0 e t1), com um dimensionamento diversificado, destinada a um segmento de pessoas que vivam sós, ou em casais, que privilegiem uma localização central e a eventual existência de um variado menu de serviços e equipamentos comuns.

Esta é uma opção em que as relações de privacidade marcadamente urbanas são reduzidas, pois a privacidade aqui será delimitada a uma marcação das unidades dentro do sistema “multifamiliar”, ou mesmo assumidamente “comum”, embora tais estruturas devam ser adequadamente caracterizadas em termos de uma “privacidade” comum, que caracterize do conjunto de unidades privadas e as suas zonas e instalações partilhadas, marcando-o como um verdadeiro “sítio de habitar” e, tal como numa habitação, abrindo-o, “pontualmente” aos visitantes e tratando-os com a devida amabilidade e até alguma positiva/diga “cerimónia”.

Em alternativa a este afirmado sentido “comunitário”, ou, eventualmente, a ele associado, poderemos optar por uma estrutura mais “hoteleira”, caracterizadamente “anónima” nos seus espaços comuns e expressivamente aberta ao público, reservando-se, assim, o sentido de privacidade para as unidades habitacionais e podendo prolongar-se, até, um certo sentido de “espaço aberto/quase público” até aos próprios acessos privavtivos às diversas unidades habitacionais, isto para se evidenciar o sentido de autonomia de vivência em cada uma destas unidades.

(ii) Uma linha dos fogos considerados correntes, integrados em edifícios multifamiliares, mas que também possam dispor de um leque de serviços e equipamentos comuns – o exemplo da habitação nas grandes metrópoles brasileiras é significativo a este nível, sendo, pelo menos um piso geral globalmente dedicado para este tipo de serviços (ex., pequeno ginásio, salão de festas, sala de jogos, pequena piscina, sauna, etc.).

Aqui há um manejar das condições de privacidade residencial que só ganhará com uma abertura condicionada, mas muito franca, dos referidos espaços e equipamentos comuns aos residentes e a quem venha de fora, naturalmente, a convite dos próprios habitantes; e uma tal condição obriga a uma localização e caracterização específica destas instalações.

Mas o tratar a privacidade nestes edifícios multifamiliares “correntes”, passa por uma conformação/pormenorização dos respectivos espaços comuns, que, basicamente, procure conciliar o quadro multifamiliar com a presença específica de cada habitação, designadamente, em termos da expressão dos seus vãos de porta e de janela e do respectivo enquadramento de pormenor, incluindo os elementos e aspectos de identificação, apropriação e orientação, que para além de serem matéria de apropriação, têm de ser veículo de um equilibrado sentido de privacidade e presença doméstica; e é importante que esta sentido tenha algum reflexo urbano.

Naturalmente que o que aqui foi referido terá de reflectir a dimensão do edifício, sendo bem diferente num conjunto de seis habitações ou num conglomerado de 100 fogos, mas talvez neste último continue a ser vital o sentido de privacidade e intimidade que cada unidade habitacional possa transmitir no uso dos respectivos espaços comuns; e mesmo quando começamos a misturar habitação e outros tipos de usos ligados, designadamente, ao trabalho/escritório em casa, esse sentido de privacidade continua a ter toda a razão de ser, provavelmente agora um pouco transmutado em termos de expressão de uma dada identidade específica, harmonizada num quadro comum ambiental e funcional.

(iii) Uma linha que privilegia a habitação individualizada, mas que poderá variar em múltiplos matizes de individualização, com eventuais ganhos funcionais e de densificação e localização urbana, e que, naturalmente, também poderá dispor de um eventual leque de serviços e equipamentos comuns.

Estaremos aqui no principal núcleo de expressão potencialmente evidenciada de privacidade, provavelmente ligada a um forte sentido de identidade e de apropriação; de certa forma trata-se da principal razão de ser deste tipo de habitação: o sentido de privacidade clara e total, o “a minha casa é o meu castelo”, tantas vezes com imagens e “muralhas” de castelo. E sobre isto não se desenvolvem aqui mais comentários.

No entanto, aponta-se, aqui, a possibilidade que há de associar a um equilibrado, embora forte, sentido de privacidade e identidade, que marque soluções unifamiliares, com satisfação de muitos dos seus habitantes, um sentido de integração numa mesma unidade residencial e urbana, sem grandes perdas nesse carácter e com grandes ganhos num evidente reforço do sentido do lugar e de agradável e evidenciada expressão residencial, para além de se poderem obter excelentes acréscimos de funcionalidade e de disponibilidade em termos de apoios e serviços, que numa base exclusivamente individual seriam muito difíceis de garantir.

Em termos de uma tipologia que serve globalmente tais objectivos devemos apontar a “velha” e boa “casa-pátio”, que oferece grandes vantagens em termos de privacidade, expressão individualizada de programas específicos e capacidade de agregação entre várias habitações, enquanto em termos urbanos disponibiliza uma apelativa imagem de conjunto, interessantes resultados formais e volumétricos e uma excelente capacidade de integração de habitações com variados tipos de desenvolvimentos espaciais, sendo, ainda, uma excelente solução de agregação de diversas tipologias: unifamiliares, bifamiliares e pequenos multifamiliares com acessos directos ao espaço público.

(iv) Uma linha intermédia entre as tipologias multifamiliar e individualizada/unifamiliar, que aproveite e desenvolva muitas das ricas potencialidades formais/e de escala, funcionais, conviviais e de integração urbana e paisagística destas tipologias intermédias.

De certa forma nesta matéria, assim como temos casos em que o unifamiliar, não o deixando de ser ganha, uma riquíssimo carácter colectivo e também globalmente integrado (por exemplo, no caso do Sea Ranch, por Cherles Moore), temos, com um sentido relativamente oposto, soluções multifamiliares, que não o deixando de ser, ganham um riquíssimo carácter individualizado/humanizado e dinamizado, associado a um certo carácter habitualmente associado a soluções unifamiliares caracterizadamente privatizadas e como tal identificadas (e o próprio Charles Moore tem exemplos deste tipo); note-se que se focou aqui um único gabinete projectista, essencialmente para evidenciar que estamos a tratar de matérias que são claramente manejáveis em termos de concepção residencial, arquitectónica e urbana.

Registaram-se, aqui, casos de unifamiliares com algum carácter comum e de multifamiliares com expressivo carácter privado, e de certa forma podemos considerar que é por esta via de miscigenação de características funcionais e formais, que poderemos ir reinventando as soluções habitacionais de transição entre uni e multifamiliar; considerando-se, portanto, que é o manejar do sentido de privacidade, seja em termos funcionais (ex., acesso doméstico privado directo, ou quase directo ao espaço público), seja em termos de imagens expressivamente associadas a mundos domésticos privados, que será em boa parte possível o desenvolvimento dessas soluções de transição ou intermediárias entre o uni e o multifamiliar, que na prática serão sempre “pequenas” tipologias multifamiliares razoavelmente inovadoras .

(v) Podemos ainda referir uma linha tipológica de habitação assistida (e com variados níveis de assistência), que, um pouco ao contrário das tipologias que acabaram de ser referidas, privilegie um muito completo menu de serviços e equipamentos comuns e cujas unidades ofereçam um leque de diversas condições de integração urbana e paisagística; linha esta que só ganhará em caracterização e urbanidade se conseguir implantar-se como uma verdadeira tipologia do habitar, sem quaisquer “marcas” negativamente assistenciais – portanto, numa perspectiva de natural integração de uma grande variedade de serviços, que, eventualmente, poderão chegar à disponibilização de um nível elevado de apoio diário e de saúde.

Nesta última perspectiva que visa integrar a assistência e o equipamento social com um habitar verdadeiramente satisfatório em termos domésticos e de integração vicinal e urbana é também de grande importância o cuidadoso manejar de uma caracterização de privacidade “comum” ou de grupo e de uma privacidade pessoal de cada pessoa no “seu” espaço mais privado e caracterizado, que se possa constituir numa marca de “habitar” que suplante o corrente e predominante sentido assistencial, “anónimo” e pouco afectuoso de muitas estruturas deste tipo já existentes.

Notas:

(1) Serge Chermayeff e Christopher Alexander, “ Intimité et Vie Communautaire – vers un nouvel humanisme architectural “, 1972 (1963).

(2) Amos Rapoport, “Aspectos humanos de la forma urbana – Hacia una confrontación de las Ciências Sociales com el diseño de la forma urbana”,1978 (1977), p. 265.



Notas editoriais:


(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.


(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.


(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.





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Infohabitar, Ano VII, n.º 341, 9 de Abril de 2011