domingo, julho 15, 2012

402 - Vizinhanças socialmente apropriadas e atraentes - Infohabitar 402

Infohabitar, Ano VIII, n.º 402

Na presente edição do Infohabitar retoma-se a publicação corrente da nossa revista com um novo artigo sobre a temática do adequado projecto de vizinhanças urbanas e residenciais, intitulado "Vizinhanças socialmente apropriadas e atraentes" - Artigo XV da série habitar e viver melhor ( o último texto desta série foi publicado em 27 de Maio de 2012, no n.º 395 do Infohabitar e abordou a funcionalidade destas vizinhanças).

Notícias do 2.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono - 2.º CIHEL




Regista-se que após terem sido recebidos 178 propostas de resumos/comunicações ao Congresso, no âmbito da respectiva 1.ª Chamada, que decorreu até ao início de julho, estes textos foram já remetidos à Comissão Científica do 2.º CIHEL.

Estamos então, agora, numa numa fase intermediária de preparação do 2.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono, lembrando-se que durante Julho está aberta a 2.ª Chamada de propostas de resumos/comunicações.

Salienta-se que, fazendo correr um pouco o cursor terão acesso ao artigo sobre o 2,º CIHEL, editado no n.º 400 do Infohabitar, intitulado "Vamos ter um grande 2.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono", onde se faz uma síntese seja dos apoios com que contamos desde já - e em breve haverá excelentes novidades nesta matéria -, seja de alguns dos aspectos de conteúdo que sempre estiveram presentes na estruturação deste Congresso.


E relembram-se as datas, ligeiramente actualizadas, para entrega das Comunicações:
• Envio de resumos de propostas de comunicações da 2.ª Chamada até 30 julho de 2012 - envio segundo as regras editadas no site, exclusivamente para comunicacoes2cihel2@lnec.pt - e atenção que no site do Congresso poderá estar ainda erradamente indicado o mail organizacao2cihel@lnec.pt.

• Comunicação da aceitação das propostas da 1.ª Chamada a partir de 30 julho de 2012.

• Comunicação da aceitação das propostas da 2.ª Chamada a partir de 14 de setembro de 2012.

• Inscrições dos autores das comunicações, acompanhando o envio dos respectivos textos completos das comunicações, eventual resumo alargado e dados complementares até 5 novembro de 2012 - chama-se a atenção para esta ser uma data fundamental a cumprir com rigor.

• Selecção final e eventual solicitação de revisões das comunicações até 30 novembro de 2012.

• Entrega da revisão final (quando aplicável: até 15dezembro de 2012.

ARTIGO DA SEMANA - ARTIGO DA SEMANA - ARTIGO DA SEMANA
VIZINHANÇAS SOCIALMENTE APROPRIADAS E ATRAENTES

Artigo XV, da série habitar e viver melhor

António Baptista Coelho

Lynch diz-nos que a homogeneidade social de um dado sítio é um meio mais determinante do que o respectivo desenho urbano de pormenor para aí se desenvolverem sentimentos de comunidade; uma condição que o autor associa, no entanto, mais directamente, a pequenas comunidades residenciais até cerca de 100 habitações. E o mesmo autor complementa o seu raciocínio referindo ser fundamental não esquecer, que a existência de uma forte comunidade social bem radicada num dado local, é um factor muito importante, por exemplo, para o desenvolvimento das crianças e dos jovens dessa vizinhança (1).

Poderemos ficar, assim, com a ideia de que se desenvolvermos uma intervenção numa perspectiva de predominância pedonal, tal como se tem ciclicamente defendido nesta série editorial, em acções de pequena escala e respeitando critérios de homogeneidade social, teríamos quase garantido o êxito de uma vizinhança.

No entanto, desta forma, há matérias que ficam por tratar, e, designadamente, duas bem distintas, que, em seguida se destacam:

(i) uma delas tem a ver objectivamente com a qualidade do desenho de Arquitectura urbana aplicado, e é bem conhecida a diferença entre bons e maus projectos, ou, melhor, entre Arquitectura e não-arquitectura;

(ii) e a outra matéria é basicamente social e tem a ver, quer com a existência grupos socioculturais que obrigam a concentrações muito menores e a uma maximização da respectiva dispersão, caso contrário os resultados poderão ser, a médio prazo, tão negativos para eles como para os habitantes das respectivas envolventes, quer com os fundamentais cuidados de mistura sociocultural, em diversos tipos de aspectos (culturais, etários, opções de vida, etc.), que parecem ser fundamentais para a criação de vizinhanças vivas e civicamente positivas.




Fig. 1

Tudo isto, quando resulta, resulta em vizinhanças que são tão apropriadas directamente pelos seus moradores, como o são, indirectamente, pela cidade em que se integram, neste último caso considerando uma apropriação no sentido de agradável e útil diversidade formal, funcional e social e resultando no útil, atraente e motivador mosaico de espaços vivenciais e urbanos, que todos desejamos se possa constituir na nossa cidade e no nosso bairro.

Kevin Lynch refere, ainda, que (2), acima de uma dimensão de vizinhança local pequena, que o autor estima em cerca de 100 fogos, a homogeneidade social e o controlo evidenciado dos territórios apresentam já aspectos que considera poderem ser perigosos (3); e a noção que neste emomento parece ser a mais adequada, e que decorre directamente da observação periódica e ao longo de mais de duas dezenas de anos, de algumas significativas centenas de conjuntos de habitação de interesse social portuguesa, é que esta conclusão de Lynch poderá ser estrategicamente reduzida e deverá ser especialmente reduzida na medida em que se identifiquem situações sociais marcadas por um reduzido nível de escolaridade e/ou pela pertença a minorias étnicas com registos significativos em termos de dificuldades na integração social e urbana.

Toda esta perspectiva que favorece uma disseminação e integração urbana maximizadas e aliadas a uma máxima diversidade sociocultural ao nível das vizinhanças de proximidade, tem a ver não só com as questões que foram apontadas, mas também com a perspectiva que se tem de uma cidade actual onde é possível e provavelmente desejável que as relações sociais tenham uma base social em unidades de vizinhança muito pequenas (ex., quarteirões), mas que se dispersem, naturalmente, por amplos e diversos sectores da cidade; pois assim se pode fazer e viver uma melhor cidade.

Mas falámos dos aspectos sociais e não falámos, nem iremos falar longamente, da importância da Arquitectura na construção de vizinhanças apropriadas e atraentes, que, portanto, possam influenciar uma vida diária mais agradável e motivadora.

No entanto dá vontade de afirmar, desde já, que essa importância é, na prática, muito mais determinante do que se poderá considerar numa primeira reflexão. E só não se avança mais nesta afirmação devido à ausência de um número significativo de estudos que fundamentem esta relação, entre uma evidenciada qualidade arquitectónica e uma significativa satisfação residencial.

Mas os exemplos estão aí, e a eles voltaremos compassada e pormenorizadamente, desde as Categorias HR, I e II (as mais económicas da promoção de habitação de interesse social portuguesa nos anos 60 do século passado) ao decénio anterior, nas "Células Sociais" do grande Alvalade lisboeta e nos "Pequenos Alvalades" disseminados pelo País (conceito que julgo ter sido referido por Nuno Teotónio Pereira).

E podemos recuar mais para outras Habitações Económicas, ou então avançar mais até muitos casos de habitação de interesse social entre o 25 de Abril e a actualidade, em que áreas reduzidas, acabamentos simplificados e um excelente projecto de Arquitectura, que alia verdadeira valia de "desenho" a uma expressiva capacidade de emoção/empatia e de apropriação, parece terem resultado em vizinhanças bem apropriadas, atraentes e arquitectonicamente dignificadoras da cidade em que se integram.

A estas matérias iremos voltando, sob outras facetas de reflexão, mas ainda nesta área da aproximação a uma adequada apropriação das vizinhanças residenciais, há que sublinhar ser esta uma condição fundamental para o desenvolvimento de um sentido de identidade local que é, provavelmente, um factor crucial do sucesso social e arquitectónico de qualquer nova ou renovada vizinhança.




Fig. 2

Num excelente estudo do LNEC, realizado já há alguns anos, Luís Soczka refere que "vários estudos levam a crer que o sentimento de perda de identidade e o anonimato percebido levam a reacções emocionais negativas na situação de adensamento populacional, constituindo assim um importante factor de stress e um precipitador das respostas agressivas" (4).

E o mesmo Luís Soczka, no mesmo estudo, esclarece que a concentração populacional não é um indicador objectivo, como a densidade habitacional, mas sim um indicador psicológico que resulta, subjectivamente, da percepção da densidade populacional como excessiva. E esta é, novamente, uma matéria profundamente arquitectónica, que tudo tem a ver com um “desenho” que pode, eventualmente, aliar as vantagens de uma densificação real a um “dosear” ou a um amenizar da percepção dessa densidade, ou, pelo contrário um acentuar aparente dessa densificação, por exemplo, em situações mais ruralizadas, onde se pretenda criar um pequeno pólo mais urbano – e tudo isto faz parte daquilo que deve ser um excelente “jogo” de/da Arquitectura.

E podemos fazer aqui mais uma pequena síntese social e de Arquitectura, apurando que, mais uma vez, um aspecto importante na satisfação de quem habita – a identidade, que se liga directamente à apropriação – é também um aspecto determinante na construção de uma adequada caracterização arquitectónica e a identidade de um dado espaço urbano e residencial tem de ser construída em boa parte através de um bom desenho, que emocione quem o habita e que dignifique o bairro/cidade em que se integra.

Tem-se a certeza de que, neste texto/temática se abordaram matérias tão diversas como fundamentais para melhor se habitar/viver o (n)o espaço urbano, matérias que, individualmente, exigem aprofundamento, mas que só quando associadas (ex.º diversidade social + densidade equilibrada mas agradavelmente afirmada + desenho/forma/acabamentos que agradem e emocionem habitantes e que dignifiquem a cidade) poderão ter os resultados mais efectivos na satisfação e no fazer cidade, sendo que tal associação exige também cuidadoso aprofundamento e sistemática exemplificação.

Mas tais desenvolvimentos terão de ficar para outras oportunidades, sublinhando-se, desde já, que o "melhor habitar" não poderá nunca decorrer de fórmulas "simplistas", mas sim de combinações muito diversas e exigentes.

Notas:

(1) Kevin Lynch, "La Buena Forma de la Ciudad", p. 179.

(2) Kevin Lynch, "La Buena Forma de la Ciudad", p. 177.

(3) Esta dispersão é real em todos os grupos sociais, embora seja menos efectiva naqueles com baixos níveis salariais e/ou habitualmente marginalizados ou "auto-isolados" (por razões étnicas e culturais).

(4) Luís Soczka, "Espaço Urbano e Comportamentos Agressivos - da Etologia à Psicologia Ambiental, p. 7.

Notas editoriais:

(i) A edição dos artigos no âmbito do blogger exige um conjunto de procedimentos que tornam difícil a revisão final editorial designadamente em termos de marcações a bold/negrito e em itálico; pelo que eventuais imperfeições editoriais deste tipo são, por regra, da responsabilidade da edição do Infohabitar, pois, designadamente, no caso de artigos longos uma edição mais perfeita exigiria um esforço editorial difícil de garantir considerando o ritmo semanal de edição do Infohabitar.


(ii) Por razões idênticas às que acabaram de ser referidas certas simbologias e certos pormenores editoriais têm de ser simplificados e/ou passados a texto corrido para edição no blogger.


(iii) Embora a edição dos artigos editados no Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico, as opiniões expressas nos artigos apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores.




Infohabitar a Revista do Grupo Habitar

Infohabitar, Ano VIII, n.º 402


Editor: António Baptista Coelho


Edição de José Baptista Coelho


Lisboa, Encarnação - Olivais Norte

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