domingo, maio 25, 2014

485 - O silêncio como base de projeto e quadro natural - Infohabitar 485


Infohabitar, Ano X, n.º 485

Nota inicial:

O artigo que se edita esta semana corresponde a parte da intervenção do autor no Ciclo de Conferências :  “Silêncio”, realizado em conjugação com a exposição de fotografia e de pintura de Alves Tê e Caterina Ponti, patente no Museu de Lanificios da Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, sobre a temática "O Silêncio das Máquinas", de 8 de maio a 29 de junho.


Este Ciclo de Conferências foi organizado pelo Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura (DECA) da  Universidade da Beira Interior, nos dias 13 e 20 de maio de 2014, na sala de conferências do Museu de Lanifícios da UBI.

Organização: Ana Martins, Moreira Pinto e Susana Santos


Programa do Ciclo de Conferências Silêncio: 
Dia 13 maio

14h30 | Arqto. Bernardo Carvalho
15h00 | Arqta. Inês Campos
15h30 | Prof. Graça Esgalhado
16h00 | Arqto. Carlos Ganhão
16h30 | Prof. Ana Paula Rainha
17h00 | Prof. Jaceck Krenz

Dia 20 maio 

14h30 | Prof. Baptista Coelho
15h15 | Prof. Ana Martins e Prof. Antónia Conde
16h00 | Prof. Moreira Pinto
16h45 | Prof Susana Santos
           

O silêncio como base de projeto e quadro natural

António Baptista Coelho

O silêncio como base de preparação e de vital experimentação do espaço que se projecta e que, depois, se quer vivo

            Falar um pouco sobre o silêncio na arquitectura, considerando esta, naturalmente, como conjunto articulado de espaços interiores, exteriores e de transição, com presença doméstica e urbana e importantes ligações com o bem-estar que deve caraterizar os nossos cenários de vivência, será, talvez, falar de uma qualidade arquitectónica que acompanha e valoriza, seja, numa primeira linha, os respetivos atos de conceção desses espaços e ambientes, que têm de se fazer sempre num relativo silêncio, de concentração e de diálogo íntimo com os diversos aspetos em que se fundamenta essa concepção, esse projeto, seja, um silêncio que, numa segunda linha, embebe e caracteriza as primeiras vivências directas desses espaços logo que recém-concluídos, e atraentemente vazios e expectantes, produzindo-se, assim, imagens quase que estranha e eloquentemente silenciosas.
            Produzem-se, assim, imagens que acabam por ser projetos feitos realidade, e daí ainda tão calmas, numa primeira apresentação real da obra, que é sempre única e estimulante, em termos de uma fruição íntima do resultado real desse projeto de arquitectura; e talvez daqui resulte boa parte da importância que se dá à ilustração fotográfica dessa primeira fase de obra concluída e de certo modo vazia dos seus posteriores e essenciais conteúdos vivenciais, sociais e conviviais.
Fig. 01: Centro das Artes Casa das Mudas, na Calheta, Madeira., Arq.º Paulo David; à direita ...
            Temos, assim, o silêncio como base de preparação do espaço que se quer vivo e como uma espécie de condição de prova de fogo, individualmente sentida, de como resulta esse espaço, quando construído, uma prova caraterizada por uma certa disponibidade desse espaço ser entendido, globalmente, como algo que apresenta um certo potencial de acolhimento, que depois será, ou não, comprovado, quando habitarmos esse espaço; e sendo que tudo isto, da fase de projeto à fase final de vivência preliminar da obra acabada, obriga a um quadro básico de silêncio, ou de siêncio preenchido pela boa música, por exemplo, e será sempre impossível num quadro marcado pelo ruído e pela desordem que está frequentemente associada ao ruído.
            Talvez que por isso tantos amadores de fotografia, e tantos arquitectos, privilegiem os espaços vazios, desabitados e de certa forma silenciosos, não numa negação da sua essencial utilidade como quadros da vida humana nos seus mais variados aspetos, mas sim muma facilitação da leitura global e, depois, mais detalhada desses espaços, quase uma sua apresentação prévia, quase um cenário mesmo cenário ainda que provisoriamente cenário, e afinal quase um verdadeiro desenho em escala natural e volume, um desenho que sempre nos traz novidades relativamente ao desenho em papel que o antecedeu; mas um desenho real que, tal como o desenho-desenho, obriga a uma sua leitura silenciosa, e cuidadosamente vagarosa, num vagar que também se liga ao silêncio e que provavelmente tem clara expressão nas calmas e sóbrias imagens a preto, branco e cinzentos.

O silêncio e o meio natural

            Dito isto, que pretendia fazer, apenas, um enquadramento esquemático e global da matéria que aqui me proponho, mas que, tal como sempre acontece, foi tema que avançou por si próprio e que deixou outros caminhos de desenvolvimento, devo agora voltar atràs, ao meio natural, que é aquele onde fundamentamos os projectos de Arquitectura.
            Salienta-se que nos sítios naturais ou expressivamente naturalizados, o silêncio é base de quase tudo e nem é silêncio, pensa-se no silêncio natural e no silêncio na natureza, marcado por sons naturais e que acabamos por considerar como integrando o silêncio; e esta é matéria interessante pois, entre muitos outros aspetos, um dos objetivos de uma boa arquitetura é proteger e servir o homem em termos de um seu conforto amplo, em termos de um adequado equilíbrio com as condições naturais e não será por acaso que está provado que o meio natural, o seu quadro ambiental e o sossego que o marca são aspetos essenciais no bem-estar humano, sendo por exemplo usados, objetivamente, no tratamento de determinados problemas de saúde e na suavização do tão conhecido stress urbano.
            Temos então, assim, o silêncio como virtude natural que, conjuntamente com outras condições de conforto ambiental, procuramos proporcionar estrategicamente nas nossas casas, nas nossas vizinhanças urbanas e mesmo até, pontualmente, em determinados espaços urbanos mais intensos, onde é sempre possível e desejável que existam oportunidades de gozar um pouco de silêncio ou de significativa redução do ruído; e estas pequenas ilhas de calma, rodeadas de ruído e bulício urbano, serão tanto mais estimulantes, quanto mais associadas estiverem a condições naturais de estabelecimento dessa acalmia do ruído envolvente, sendo o contrário exemplificado por soluções muito condicionadas e associadas a instalações com essa finalidade específica.

          
Fig. 02: os meios naturais ou expressivamente naturalizados são como que "geradores de silêncio"
            E é interessante lembrar que os meios naturais ou expressivamente naturalizados são como que "geradores de silêncio", porque captam e amortecem os ruídos envolventes e próprios, porque produzem ruídos naturais de camuflagem, e porque associam condições de silêncio e conforto a vistas e quadros naturais, marcados pelo verde, pelas árvores e até pela água naturalizada.
            De certa forma tais quadros naturais diretamente indutores de condições mais silenciosas e indiretamente associados a memórias de ambientes silenciosos, são, depois, ferramentas que o projetista deve usar quando projeta ou reprojeta arquitetura; naturalmente não de uma forma solta e por vezes cega, mas sim integrada nos diversos aspetos de conforto ambiental que tantas pontes comuns apresentam – aspetos acústicos, higro-témicos e de conforto visual – uma integração que precisa, urgentemente, de avanços e de sínteses facilmente aplicáveis por não especialistas – e perdoem esta espécie de divagar técnico não muito adequado ao perfil da temática, ou será que é adequado e então estaremos numa reflexão extremamente sensível onde se tentam abordar, integradamente, aspetos mais objetivos e outros ainda considerados menos objetivos.
Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.


INFOHABITAR Ano X, nº 485
Editor: António Baptista Coelho - abc@lnec.pt
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Universidade da Beira Interior (UBI), Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura (DECA) 
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT)
O silêncio como base de projeto e quadro natural
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

domingo, maio 18, 2014

484 - Algumas reflexões gerais sobre a adaptabilidade doméstica - Infohabitar 484

Infohabitar, Ano X, n.º 484

(Nota prévia: lembram-se os leitores que a Infohabitar ultrapassou, há poucas semanas, a barreira do meio milhão de consultas/Page views)

Algumas reflexões gerais sobre a adaptabilidade doméstica (1)

Artigo LI da Série habitar e viver melhor

António Baptista Coelho

O desejo de possuir uma habitação que possa ir evoluindo consoante as necessidades, os desejos e os recursos familiares, tanto no interior como no exterior privado leva à opção por uma moradia, ou por um piso térreo espaçoso e com quintal privado; desde que nesse quintal seja permitido o desenvolvimento de anexos e outras melhorias (exº, vedações), mas, sempre, segundo projectos-tipo, de modo a que se garanta a qualidade local da imagem urbana e paisagística.

A adaptabilidade da habitação, ao longo dos anos

A adaptabilidade da habitação, ao longo dos anos, ao crescimento e decrescimento de uma família corrente está, habitualmente, associada à respectiva sequência de zonas funcionais domésticas predominantes:
·         primeiro mais zonas de estar e menos quartos;
·         depois mais quartos;
·         e em seguida, novamente, mais zonas de estar e trabalho.
Esta "predisposição" da habitação para a adaptabilidade doméstica depende, geralmente, da existência de condições iniciais de espaciosidade geral e de compartimentos suplementares (no mínimo, mais um compartimento "de reserva"); e, por outro lado, tais condições proporcionam uma grande liberdade na ocupação e no variado uso dos mesmos espaços domésticos.
Mas a adaptabilidade no fogo também "se joga" de um modo "estático", nomeadamente, através de uma organização geral bastante uniforme que estruture a circulação doméstica em idênticas condições de acesso a  compartimentos idênticos (sem grandes diferenças de áreas, tipos de aberturas interiores e exteriores e relacionamentos com as restantes partes da casa).

Fig. 01: Fonte, RABENECK,  A.; SHEPPARD, D..; TOWN, P. - Housing, flexibility-adaptability. Architectural Design, n.º 2, Londres, 1974.

Diversos tipos de quartos

A opção entre o desenvolvimento exclusivo de quartos tradicionais e de uma única e também tradicional sala-comum ou, pelo contrário, a criação de compartimentos multifuncionais para fins especiais (a serem definidos pelos habitantes) e de uma segunda zona de estar (saleta), é uma decisão que tem a ver com os dois seguintes aspectos:
·         A solução de habitação caracterizada por quartos tradicionais e uma única e também tradicional sala-comum implica que a zona de estar seja espaçosa, agradável e bem separada de uma zona de quartos (zona íntima), onde se concentram todos os quartos da casa e onde pontifica um quarto principal (bem servido por uma casa de banho).
·         A solução de habitação caracterizada pela existência de quartos para fins especiais pode aceitar uma sala de estar que não seja especialmente espaçosa, desde que se caracterize por compartimentos com dimensões, ambientes (tipos de janelas e acabamentos) e posições na casa (fora ou dentro da zona de quartos e mais ou menos acessíveis a partir da porta de entrada) verdadeiramente adequados para o fim ou fins em vista: "casa de jantar"; "sala de família"; escritório ou biblioteca; saleta para recreio e trabalho de crianças e jovens; saleta de visitas; saleta para passa-tempos; quarto de serviço; quarto de visitas (o dormir eventual de visitas pode ser considerado num dos quartos atrás referidos).
A existência de uma "sala de família" multifuncional e espaçosa, integrando a preparação de refeições, as refeições correntes e os trabalhos e lazeres domésticos e familiares é uma opção fundamental para esta última solução de fogo, tanto por razões práticas de atribuição de uma zona com área significativa e bem situada para esta função, como porque é condição básica de libertação do espaço de estar, mais formal, para actividades mais especializadas e, consequentemente, mais exigentes em termos de conforto ambiental, embora contentando-se, frequentemente, com condições de espaciosidade relativamente "económicas" (exº, leitura, audição de música, convívio restrito, etc.).
Sobre a importância, hoje em dia crucial, da adaptabilidade das soluções domésticas (uma qualidade bem distinta de situações funcionalmente "rígidas") e, portanto, expressiva e facilmente adaptáveis, anotam-se aqui apenas alguns aspectos essenciais tendo em vista, por um lado, o objectivo de uma respectiva e aproximada tipificação e, por outro, salientar a importância real de se desenvolverem habitações adequadas a diversos tipos de agregados familiares, modos de vida e uso e apropriação domésticos, combatendo-se "layouts" e configurações pormenorizadas com características funcionais e ambientais "rígidas" (pouco adaptáveis e versáteis).

Adaptabilidade passiva ou activa

De uma forma geral pode-se tipificar uma adaptabilidade doméstica passiva e uma outra adaptabilidade activa, caracterizando-se cada uma delas, respectivamente, pelos aspectos referidos em seguida:
·         Adaptabilidade "passiva" por organização geral da habitação e do dimensionamento físico dos respectivos compartimentos proporcionando-lhes, por um lado, (i) variadas atribuições funcionais e, por outro, (ii) clara versatilidade de ocupação por diversos tipos e disposições específicas de elementos de mobiliário; naturalmente os aspectos referidos em (i) e (ii) terão uma maior eficácia quando bem conjugados, mas podem ser considerados isoladamente.
·         Adaptabilidade "activa" por compartimentação da habitação potencial e fisicamente adaptável, por potenciais fusões e subdivisões de compartimentos em grande parte do fogo ou em algumas das suas zonas específicas (ex., sala + quarto polivalente ou "salão"); esta possibilidade poderá ter "versões" relativamente correntes (possibilitadas por uma estrutura resistente relativamente "independente" dos habituais elementos de alvenaria de tijolo que garantem a compartimentação do fogo), relativamente inovadoras (uso de tabiques "ligeiros" préfabricados e relativamente fáceis de montar/desmontar) e mesmo participadas (ex., habitantes colaborando no "desenho" da organização e no dimensionamento interior do seu fogo).

Fig. 02: Adaptabilidade passiva numa grande sala multifuncional.

Habitações ligadas ou desligadas do solo exterior

A relação com o solo exterior público e ou privado é essencial nesta tipificação, porque se refere a importantes aspectos de acessibilidade funcional e representativa, adequação à família e ao modo de vida familiar, relacionados com o estímulo de uma forte identificação com o fogo de cada um e com a sua equilibrada mas assinalável apropriação.
Dentro do objectivo da tipificação da relação com o solo exterior poderemos considerar diversas situações domésticas:
·         sem ligações directas ao espaço público e a um quintal/pátio privativo;
·         com ligação directa ao espaço público;
·         com ligação directa a um quintal/pátio privativo;
·         com ligações directas ao espaço público e a um quintal/pátio privativo.
Refere-se que as ligações directas poderão realizar-se através de escada, condição que, embora problemática para os condicionados na mobilidade, terá a importante virtualidade da "duplicação" genérica do número de fogos com esta interessante possibilidade ("porta para a rua" e/ou acesso a quintal/pátio privativo).

Notas:
(1) O texto que integra este artigo foi inicialmente realizado, pelo autor, para o estudo “Guia do comprador de habitação”, editado pelo Instituto Nacional de Defesa do Consumidor em 1991; naturalmente, na sequência da respectiva edição foram introduzidas diversas alterações à versão inicial.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.


INFOHABITAR Ano X, nº 484
Editor: António Baptista Coelho - abc@lnec.pt
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Universidade da Beira Interior (UBI), Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura (DECA) 
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT)
Algumas reflexões gerais sobre a adaptabilidade doméstica
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

domingo, maio 11, 2014

Em memória e com saudade da Arquitecta Isabel Plácido

Por vezes não é possível manter a rotina, porque somos apanhados desprevenidos por algo que, embora soubéssemos que poderia acontecer, nos marca com uma grande tristeza.

E é sempre assim na morte de um amigo verdadeiro, neste caso uma amiga de há muito, a Isabel Plácido, que sabíamos estava doente, mas que desejávamos pudesse ultrapassar esta fase mais difícil, transformando-a numa memória que se fosse esquecendo.

Assim não aconteceu e o que ficou foi aquela vontade, que é sempre a mesma na morte de um amigo, de não se querer acreditar, de não se querer comprovar o que se deseja que seja um engano terrível; mas não: aconteceu mesmo.

A Arquitecta Isabel Plácido faleceu na Quinta-feira passada, dia 8 de Maio de 2014, e à família enlutada aqui se registam os devidos e mais respeitosos sentimentos.

A Arquitecta Isabel Plácido era Investigadora do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), praticamente desde que se terminou a sua licenciatura, até há cerca de um ano, altura em que se aposentou.

A Arquitecta Isabel Plácido doutorou-se em Arquitectura, com todo o mérito, na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) e foi, desde sempre, um elemento essencial do Núcleo de Arquitectura e Urbanismo (NAU, antes NA-Núcleo de Arquitectura) do LNEC, mas também do Departamento de Edifícios do Laboratório, onde assegurou, com elevação e humanidade, variados cargos ligados ao respectivo Conselho Científico; associando ainda toda esta actividade ao desenvolvimento da actividade de projecto de arquitectura e uma carreira de formação especializada e de docente universitária na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT).


As suas excepcionais qualidades de trabalho e de capacidade de coordenação de equipas de investigação eram, apenas, suplantadas pelas suas qualidades humanas, e ficam editados no LNEC muitos trabalhos em variadas temáticas que atestam esta sua bem reconhecida capacidade - desde o processo de projecto, às pioneiras aplicações da informática no projecto de Arquitectura, ao desenvolvimento de pareceres técnicos especializados e, mais recentemente, a coordenação de um muito extenso, assinalável e útil conjunto de trabalhos que enquadram a concepção de um amplo e diversificado leque de equipamentos sociais.

Mas para além de tudo isto a Isabel Plácido estava sempre plenamente disponível para integrar outras temáticas de trabalho, ajudar nas mais diversas matérias e tarefas e dar a sua bem ponderada e humana opinião nos mais variados assuntos, sendo sempre um elemento muito positivo e vital na dinâmica de trabalho do NAU do LNEC e no sentido de estimulante convivência que muito ajudou a criar e a manter neste Núcleo.

Mas para além de tudo isto a Isabel Plácido era e é, para sempre, uma grande amiga; uma amiga que irá fazer falta a muita gente e de quem irei sentir muita falta, na convivência, na conversa, no estarmos juntos falando de tudo e de nada, desde os cães e os gatos, aos mais variados e importantes aspectos da profissão, partilhando almoços, memórias, ideias e projectos.

Costuma dizer-se que certas pessoas não acabam, porque ficam a viver nas nossas memórias: para mim e, tenho a certeza, para muitos dos bons amigos da Isabel, este costume não é apenas uma palavra, é uma realidade: Ela está e estará para sempre bem viva nas nossas memórias, e na forma como vamos continuar a viver, lembrando-nos, realmente, dela ... até ao "dia" em que nos iremos voltar a encontrar, e aí teremos tanto, tanto, de que falar.

António Baptista Coelho

e, tenho a certeza, em nome de muitos dos bons amigos da Isabel Plácido




A saudosa amiga Isabel Plácido na 2.ª fila e à esquerda (com casaco vermelho) quando da comemoração dos 40 anos do Núcleo de Arquitectura e Urbanismo, na conclusão da Conferência Comemorativa "Bairros Vivos, Cidades Vivas", em 24 de novembro de 2009.

sábado, maio 03, 2014

483 - Imagens e cores urbanas e naturais I - Olivais-Norte/Encarnação, Lisboa - Infohabitar 483

Infohabitar, Ano X, n.º 483

Imagens e cores urbanas e naturais I - Olivais-Norte/Encarnação, Lisboa

António Baptista Coelho

(Nota prévia: lembra-se que a Infohabitar ultrapassou, há poucos dias, a barreira do meio milhão de consultas/Page views)

Continuando a nova série de artigos da Infohabitar inteiramente integrados pela edição de imagens - desenhos e fotografias -, apresentam-se nesta edição algumas imagens associadas à, atualmente, bem importante redescoberta da matéria da Imagem urbana, neste caso, numa perspectiva de associação entre imagens urbanas e naturais/paisagísticas, proporcionadas pelos excelentes exemplos urbanos e residenciais evidentes no modelar bairro modernista dos Olivais-Norte/Encarnação, em Lisboa.



Imagem 01:

Relação entre imagem urbana e paisagem.

É muito interessante e estimulante a relação que se estabelece entre imagem urbana/edificada e envolvente natural/paisagística, resultando dessa relação uma valorização mutua em termos de imagem local e urbana; pois os edifícios, ainda assim, definem continuidades gerais em termos de ruas e vizinhanças.


Imagem 02:


Edifícios protagonistas.

Alguns dos edifícios têm um protagonismo acrescido na definição das referidas continuidades gerais em termos de ruas e vizinhanças; continuidades estas que resultam  tanto de uma grande clareza da estruturação geral do bairro, como de uma afirmada definição de "correntezas" edificadas bem distribuídas .



Imagem 03:

Presença da natureza.

Há verdadeiro lugar para a presença da natureza e da paisagem natural, numa primeira aliança entre arquitectura "civil" e paisagística (cerca de 1960) ; um exemplo que, infelizmente, teve pouca continuidade, entre nós.




Imagem 04:

Percursos pedonais e natureza.

Por vezes, natureza e edifícios "lutam" amigavelmente, caracterizando os diversos percursos pedonais que rodeiam todo o bairro e permitem, assim, uma sua leitura "dupla": seja mais urbana, ao longo das ruas; seja mais natural, ao longo destes caminhos. E esta foi também uma prática urbanística que não teve continuidade assinalável.


Imagem 05:

Relação entre edifícios e natureza.

Na zona central deste pequeno, mas bem agradável, bairro a relação directa e afirmada entre edificação e natureza tem excelente exemplos.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.


INFOHABITAR Ano X, nº 483
Editor: António Baptista Coelho - abc@lnec.pt
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Universidade da Beira Interior (UBI), Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura (DECA) 
Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT)
Imagens e cores urbanas e naturais I - Olivais-Norte/Encarnação, Lisboa
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.