domingo, outubro 26, 2014

506 - Lavabo, espaço funcional ou de “cerimónia” - Infohabitar 506


Artigo LXIII da Série habitar e viver melhor

Infohabitar, Ano X, n.º 506

Continuando a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os seus espaços comuns, vamos, agora, falar com algum detalhe sobre os espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam.

Primeiro viajaremos pelos espaços domésticos comuns, isto é aqueles que são usados por todos os habitantes de uma dada casa ou apartamento numa base geral de uso partilhado e de alguma comunidade; depois iremos até aos espaços domésticos privativos, portanto aqueles mais amigos de um uso individual, ou muito ligado ao casal. São os seguintes os espaços domésticos comuns a abordar, sequencialmente, em artigos desta série: vestíbulo de entrada, lavabo, corredor e zonas de passagem, sala ou zona de estar, cozinha, áreas de serviço para arrumações, verdadeiras pequenas áreas de serviço - lavandaria e rouparia, zona de refeições ou sala de jantar, casa de banho, varanda e outras zonas exteriores privadas elevadas como pátios e pequenos quintais, virtualidades domésticas do estacionamento em garagem.

No presente artigo serão abordados diversos aspetos a ter em conta no projeto de espaços de lavabo.

(Nota geral: porque boa parte dos textos que servem de base a esta série editorial estão elaborados desde há algum tempo, eles não cumprem as regras do Acordo  Ortográfico).

Lavabo, espaço funcional ou de “cerimónia”

António Baptista Coelho

O lavabo é uma pequena casa de banho de apoio, minimamente equipada em termos de equipamentos de banho e higiene pessoal, que serve, essencialmente, a zona mais social da casa e que, por isto, deve ter também objectivos de identidade e apropriação, marcando pela sua localização e pelo seu arranjo os cuidados de recepção.


Deve ter, assim, um desenvolvimento espacial e de acabamentos que ultrapasse, claramente, aspectos estritamente funcionais e pela sua localização deve isolar um visitante do interior doméstico mais íntimo, que pode estar, eventualmente, desenvolvido e mantido de modo informal.

O lavabo tem, naturalmente, funções práticas de apoio às actividades que se desenvolvem na zona mais social da habitação e assegura, sempre, um importante papel de alternativa ao uso da casa de banho principal.

Refere-se, ainda, que numa habitação pequena o lavabo continua a poder assegurar praticamente todos os perfis funcionais apontados, ainda que podendo ser dimensionalmente reduzido a uma expressão mínima.


Fig. 1 - Pormenor de habitação da Bo01: Arquitetura por Bengt Hidemark. 

Associações interessantes com o lavabo

O lavabo pode associar-se com o vestíbulo de entrada ou com outras zonas de circulação doméstica mais ligadas à entrada na habitação.

Uma associação interessante é a criação de um lavabo repartido em dois espaços, sendo um de wc e outro com lavatório e que serve de pequena antecâmara ao primeiro, permitindo-se, assim, uma sua agregação a compartimentos de estar, como é o caso de uma sala-comum.

A zona de lavatório do lavabo pode ser inserida também em outras associações domésticas, sendo frequentemente ligada a aspectos mais formais e representativos e integrando, por isso, também frequentemente, espelhos e outros elementos de arranjo interior e apropriação, e assumindo, naturalmente, o lavatório uma presença visual muito cuidada – mais um daqueles casos em que a função tem a sua importância muito delimitada face à respectiva caracterização formal.

Ainda uma outra possível associação numa parte “externa” da zona de lavabo – a tal zona onde será interessante a integração de uma pequena bacia de lavatório e de um espelho – será à integração de um espaço de arrumação de vestuário e outros elementos de protecção contra intempéries (frio e chuva), bem como de deposição daquela grande diversidade de objectos que usamos no dia-a-dia (desde molhos de chaves, a telemóveis e a pastas, por exemplo); uma possibilidade que poderia a poder fazer prever a disponibilização de tomadas adequadas aos carregadores dos múltiplos gadgets que hoje em dia nos acompanham e que acabam por “poluir” quartos e salas.

Se considerarmos um lavabo com um carácter fortemente “funcional” e prático, mas nos restantes aspectos tão estratégico relativamente à zona mais social da habitação como as soluções até aqui consideradas, então, poderemos imaginar que será possível associar-lhe variadas funções de apoio aos serviços domésticos com destaque para aquelas ligadas à lavandaria doméstica (lavar, tratar e, eventual ou parcialmente, secar e arrumar roupas).


Fig. 2 - Pormenor de habitação da Bo01: Arquitetura por Bengt Andersson-Liselius, White Arkitekter AB . 

Hábitos interessantes ligados ao lavabo

Será interessante considerar a integração de espaços com a função de lavabo, mas limitados neste caso à integração de lavatórios, em situações que estavam tradicionalmente associadas a este tipo de integração, como é o caso dos quartos.

Aspectos motivadores a considerar no lavabo

Um aspecto claramente motivador na presença e no uso de um lavabo é o seu arranjo ser desenvolvido numa perspectiva de grande continuidade de acabamentos relativamente aos espaços sociais domésticos que serve, devendo haver, sempre que possível, entradas de luz natural e algumas transparências, reguladas no sentido da privacidade, mas que de certa forma facultem uma presença agradável destes espaços na vizinhança das zonas por eles mais servidas.

Outro aspecto motivador tem a ver com a presença de plantas, sempre tradicionalmente associadas, quer a zonas próximas de espaços de recepção, quer a zonas onde há instalações de água.

Problemas correntes ligados ao lavabo

Provavelmente os problemas mais correntes no uso dos lavabos terão a ver com as suas eventuais quebras de privacidade, designadamente, em termos de ruídos durante o uso, pois há proximidade física aos espaços mais sociais da habitação; haverá, portanto, de cuidar de tais aspectos.

Questões levantadas (dimensionais e outras) no âmbito do lavabo

Não haverá muitas questões a levantar a não ser quando pretendermos pintar o lavabo com a mesma tinta que usamos na sala vizinha e tivermos problemas de licenciamento por não usarmos aí o tradicional azulejo.

Em termos dimensionais volta a referir-se a grande versatilidade oferecida pela integração de lavabos articulados em duas áreas (de wc e de lavatório), bem como o seu claro suplemento de funcionalidade relativamente à existência de uma única casa de banho numa dada habitação; e diga-se que só desta maneira a casa de banho poderá assumir plenamente a função expressa na sua designação – “casa de banho” –, pois desta forma haverá sempre uma instalação sanitária disponível durante um banho prolongado, que é o verdadeiro banho.

Novidades, dúvidas e tendências (ex., trabalho em casa; idosos, etc.) relacionadas com o lavabo

Como é sabido o lavabo é um dos elementos domésticos mais apetecível em termos da expressão das mais diversas “modas” em termos de arquitectura de interiores, condição que provavelmente poderá levar, sempre que possível, a um seu dimensionamento razoavelmente generoso.

O lavabo, mais do que uma casa de banho, ou diversamente de uma casa de banho, pode desenvolver-se como que no prolongamento do átrio doméstico; com os devidos cuidados de privacidade relativos a determinados equipamentos sanitários, como é o caso da sanita; o lavabo pode integrar-se de formas atraentes no espaço social de uma habitação, transformando-se o lavar as mãos numa agradável cerimónia social, resolvendo-se, por vezes, simultaneamente, relações espaciais e até com relativa economia de áreas de circulação.



Nota importante sobre as imagens:

As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.

Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.

A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.

Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos nas respetivas referências.

Notas editoriais:
·       (i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
·       (ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

INFOHABITAR Ano X, nº 506
Artigo LXIII da Série habitar e viver melhor

   Lavabo, espaço funcional ou de “cerimónia”

Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.






domingo, outubro 19, 2014

505 - Sobre Filipe Oliveira Dias, algumas palavras - Infohabitar 505

Infohabitar, Ano X, n.º 505


Nota prévia: em primeiro lugar e com o devido destaque, regista-se que a obra de Arquitectura residencial e urbana que é comentada no texto apresentado nesta edição da Infohabitar, o P.E.R. Monte de São João, foi promovida pela Câmara Municipal do Porto e projectada e acompanhada entre 1996 e 2004, pelo atelier Filipe Oliveira Dias, com projecto dos Arquitectos Rui Almeida e Filipe Oliveira Dias; este conjunto de habitação de interesse social foi 1.º Prémio em Concurso Público de Concepção e Prémio do Instituto Nacional de Habitação de Promoção Municipal em 2004 - Prémio INH 2004 - Promoção Municipal.



É sempre com uma grande tristeza que se regista o falecimento de alguém com quem se teve o prazer e a honra de conviver em diversas ocasiões ao longo dos anos.

Este texto é editado na sequência do falecimento do colega arquitecto Filipe Oliveira Dias, um grande projectista e Arquitecto que deixa uma muito estimulante e rica obra seja nas áreas dos cine-teatros, seja em outros bem diversos temas, como os da habitação e da "obra pública".

Do Filipe Oliveira Dias muito se esperava ainda, e muito há a visitar com o respeito e com a alegria de se conhecerem obras em que atingiu uma excelente integração entre as mais diversas preocupações humanas, sociais, técnicas e artísticas - como, por exemplo, a belíssima relação entre arquitectura e pintura que desenvolveu nos cine-teatros que projectou e a excelente combinação de qualidades residenciais, urbanas e arquitectónicas atingidas no conjunto de realojamento do Monte de São João, que, em seguida, se apresenta de forma breve.

Fica a memória, para sempre, bem viva, de um excelente e intenso percurso profissional.

À família enlutada enviamos os mais sentidos sentimentos,


António Baptista Coelho
Coordenador do Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade da Beira Interior e Editor da Infohabitar



Apenas a título de um simples testemunho, reedita-se , em seguida, um texto de 2004 sobre o conjunto de habitações sociais, promovido pela Câmara Municipal do Porto, no Monte de São João, Paranhos, Porto, uma obra que é da autoria dos arquitectos  Rui Almeida e Filipe Oliveira Dias, e que foi Prémio do Instituto Nacional de Habitação de Promoção Municipal em 2004.

Sublinha-se que a verdadeira leitura deste texto de análise só ficará completa com a visita a este conjunto de realojamento, visita esta que vivamente se recomenda, no entanto o texto incide seja sobre vários aspectos da desejável “fusão” entre a qualidade arquitectónica e a qualidade residencial, seja sobre os modos que podem e devem ser seguidos para um melhor conhecimento das obras arquitectónicas e residenciais, seja também sobre outros importantes aspectos do próprio desenho da arquitectura urbana.

Em todas estas matérias Filipe Oliveira Dias trabalhou intensa e originalmente, e por isso estas palavras e estas imagens são aqui, de seguida, re-editadas, com o devido respeito.


Fazer cidade com habitação
Depoimento de  António Baptista Coelho,
em "DIAS, Filipe Oliveira. 15 Anos de Obra Pública. Porto: Campo das Letras, 2004"
(pp. 20 e 21).

Felizmente há obras que vão marcando a pequena história, com cerca de vinte anos, da Habitação a custos Controlados financiada pelo Instituto Nacional de Habitação, e o conjunto de 55 fogos, projectado pelos Arquitectos Rui Almeida e Filipe  Oliveira Dias, e promovido pela Câmara Municipal do Porto no Monte de são João, é uma delas.


Fazer um texto sobre um conjunto com este interesse é sempre arriscado  pois, frequentemente, o querer-se dizer muito, em pouco texto, leva a não se conseguir destacar o que é mais relevante. Outro problema sempre levantado pela apresentação de uma boa obra de arquitectura, como é o caso, é que, para ser verdadeiramente "lida" e razoavelmente compreendida, tem de ser visitada, proporcionando-se tempo e capacidade de observação para a grande riqueza formal global e ao nivel dos pormenores. Fica, assim, feito o convite, que se julga importante. Considerando-se o que foi dito, as palavras que se seguem devem ser tomadas como uma impressão informal de quem visita uma parte da cidade, passeando com uma calma observadora e com a vontade de fruir sequências de espaços, quadros visuais estimulantes e aspectos de pormenor funcionais e atraentes.
Fig.01: vista geral.
Mas, ainda a modos de comentário, há que dizer que o caminho da verdadeira qualidade arquitectónica residencial, aquela que, paralelamente ao bom desenho de arquitectura urbana, satisfaz e alegra os seus habitantes, só é alcançado com o género de mistura qualitativa que foi atingida no Monte de São João e que liga aspectos funcionais e aspectos formais, conteúdos e enquadramentos e que, no resultado final surge  com aquele sentido de naturalidade que é exclusivo das boas obras de arquitectura.
Dizendo-se isto, registo e comento, muito brevemente, em seguida, a opinião que publicamente exprimi sobre o conjunto residencial do Monte de São João, quando este foi visitado pelo Júri do Prémio do Instituto Nacional de Habitação.
Fig. 02: pormenor do exterior do humanizado quarteirão.

Considerando o múltiplo interesse urbano e arquitectónico deste conjunto e o objectivo de realizar uma síntese qualitativa do mesmo, destaquei na altura, e faço-o em seguida (respeitando a ordem então usada) dez qualidades distintas ou pares qualitativos, que julgo caracterizarem o conjunto residencial do Monte de São João:

1.    evidenciar a unidade numa base de diversidade;
2.    salientar a urbanidade e a presença estratégica da natureza;
3.    suscitar comunidade e domesticidade - levando o sentido colectivo até ao fogo e dando ao conjunto um carácter global protegido/doméstico;
4.    harmonizar exterioridade e interioridade, bem como as respectivas transições;
5.    evidenciar formas gerais e aspectos de pormenor;
6.    suscitar dignidade e alegria, afinal excelentes condições para a boa qualidade de vida e para a boa integração urbana;
7.    basear a solucão em seguências e enquadramentos espaciais e visuais;
8.    aliar "desenho" e funcionalidade, do nível urbano ao nível domestico;
9.    equilibrar a fundamental integração com um rico sentido de novidade;
10. e harmonizar modéstia formal com criatividade.
Valeria aqui a pena dizer que tudo isto deveria ser exigido no "fazer cidade com habitação", pois só assim, com tais objectivos, haverá cidade e habitação bem qualificadas.



Figg. 03 e 04: o interior do pequeno quarteirão residencial, onde se fundem equipamentos e habitação.

Para rematar a apreciação deste conjunto residencial, salienta-se a qualidade global do desenho de arquitectura, num sentido verdadeiro que vai do pormenor do espaço doméstico ao pormenor do espaço urbano. Provavelmente é este sentido global ou bastante completo de obra arquitectónica que tantas vezes faz falta nos espaços habitados das nossas cidades.

Fig. 05: a caminho da habitação, um percurso igualmente humanizado.

Salienta-se também e bem a propósito desta última referência à cidade habitada que estamos aqui em presença de uma solução urbana expressivamente convivia!, na sua vizinhança de proximidade, e muito bem integrada na cidade; condições bem ligadas entre si, pois convívio vicinal e vida citadina são faces da mesma moeda.
E nestes aspectos vitais é fundamental sublinhar a pequena dimensão física e social deste conjunto, com cerca de 50 fogos, que lhe proporciona um máximo de capacidade de positiva "absorção" no tecido urbano preexistente.

Outro aspecto significativo é a mistura de soluções diversificadas e "bem criadas". Não há aqui apenas um repetir de soluções, há sim cuidadosas misturas de conteúdos funcionais, seja entre equipamentos e habitação, mutuamente vitalizados, seja entre tipologias de acesso aos fogos (escadas e pequenas galerias exteriores).
E esta mistura não é naturalmente casual, as galerias estão nos sítios mais adequados em termos de uma equilibrada vitalização do convívio de vizinhança e são atraentemente evidenciadas, mas não de uma forma excessiva; os equipamentos ligam-se à continuidade urbana que marca "faces" da.envolvente; e o estacionamento comum tem acesso no local mais favorável e aproveita ao máximo a luz natural proveniente do grande terraço pedonal e de lazer que cobre e preenche o miolo da vizinhança.






Fig. 06: pormenor das excelentes e diversificadas soluções habitacionais; bem atravessadas pela luz natural.

Ao nível dos fogos também muito se pode dizer, começando por salientar tratar-se de um, agregado de muito estimulantes soluções domésticas, extremamente bem pormenorizadas nas suas diversas zonas, mas não perdendo unidade.
Mas, acima de tudo, destaca-se, no interior das habitações, o próprio espírito doméstico que caracteriza estas "casas". Relações espaciais estimulantes, sequências atraentes, vãos bem marcados e tratados, uma boa capacidade funcional geral e de arrumação em particular e uma escala geral muito humanizada, parecem levar as áreas controladas dos fogos a adquirir um carácter de acolhimento e envolvência.

Um último aspecto que se destaca é a grande unidade desta obra, constituída por uma constelação de pormenores, que vive destes pormenores, mas não perde unidade nem carácter. Antes os ganha e os revela, sequencialmente, ao longo de uma fundamental e compassada visita.
Neste conjunto residencial do Monte de São João houve sabedoria para transformar um sítio difícil, junto a uma via rápida, num sítio residencialmente desejável e que comunica alegria de vida e de habitar, contida diversidade formal e clara ligação à natureza - o que se considera fundamental nos novos e potencialmente melhorados meios urbanos -, mas não abdicando de um sentido geral sóbrio e digno.
Aqui se recupera e muito bem a solução de galeria exterior e dela se retira partido plástico. Aqui há, do exterior da vizinhança ao interior doméstico, um grande carinho pela pormenorização de espaços e das ligações entre espaços. Aqui não se deixa nada por tratar em toda a volta, marcando-se "miolo e casca" e pormenorizando-se ligações e enquadramentos visuais.

Regista-se, em seguida, o programa global deste conjunto do Monte de São João, que se integra no âmbito do Programa Especial de Realojamento (PER), um programa de habitação de interesse social para pessoas com recursos financeiros muito reduzidos e que habitavam barracas ou espaços habitacionais com más condições de habitabilidade: 25 fogos T3 (3 quartos de dormir), 30 fogos T2 (2 quartos de dormir), 3 estabelecimentos comerciais, 1 garagem coberta, 1 espaço de associação de moradores, 1 espaço para administração do condomínio e 1 espaço de Actividades de Tempos Livres (ATL); isto para além de um espaço de vizinhança expressivamente convivial, que ocupa o miolo do conjunto.
E é bem interessante salientar a sobriedade, escala humana de vizinhança e variedade funcional deste programa, aplicado num conjunto de habitação de interesse social que fica, sem dúvida, para a história deste tipo de intervenções em Portugal e na lusofonia.

Nota final: a todos os interessados por excelentes realizações arquitectónicas e urbanas, recomenda-se a consulta do livro:
DIAS, Filipe Oliveira. 15 Anos de Obra Pública. Porto: Campo das Letras, 2004.

Notas editoriais:
·       (i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
·       (ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.


INFOHABITAR Ano X, nº 505
Sobre Filipe Oliveira Dias, algumas palavras
Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional

Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

segunda-feira, outubro 13, 2014

504 - Últimos esboços, Setembro/Outubro de 2014 - Infohabitar 504



INFOHABITAR ANO X, N.º 504

Últimos esboços, Setembro/Outubro de 2014

António Baptista Coelho 

Com esta edição inicia-se uma série dedicada à edição de esboços urbanos e de paisagem, sendo os desenhos publicados com um mínimo de comentários.


Fig. 1: Telhados da Covilhã.



Fig. 2: Encarnação/Olivais Norte: natureza e modernismo.





Fig. 3: Encarnação/Olivais Norte: natureza e modernismo.




Fig. 4: Encarnação: natureza e cidade.




Fig. 5: Encarnação: natureza e cidade.



Fig. 6: Encarnação/Olivais Norte: a natureza na cidade.




Notas editoriais:
·       (i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
·       (ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.


INFOHABITAR Ano X, nº 504

  Últimos esboços, Setembro/Outubro de 2014

Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.


segunda-feira, outubro 06, 2014

Dia Mundial do Habitat - World Habitat Day

Dia Mundial do Habitat - World Habitat Day

The United Nations has designated the first Monday of October of every year as World Habitat Day. The purpose of World Habitat Day is to reflect on the state of our towns and cities, and on the basic right of all to adequate shelter. It is also intended to remind the world that we all have the power and the responsibility to shape the future of our cities and towns.
World Habitat Day was established in 1985 by the United Nations General Assembly.
(textos da UN-Habitat)
As Nações Unidas designaram a primeira Segunda-Feira de Outubro, de cada ano, como o Dia Mundial do Habitat - World Habitat Day. O objetivo do Dia Mundial do Habitat é reflectir sobre o estado e as condições que caracterizam as nossas povoações e cidades, e sobre o direito básico a um abrigo adequado que todos temos. Também se destina a lembrar o mundo que todos temos a capacidade e a responsabilidade de moldar o futuro das nossas cidades e povoações - e, juntaria, dos nossos territórios urbanizados, semi-urbanizados e naturais (salienta-se que este último texto é da exclusiva responsabilidade do editor da Infohabitar). 
O Dia Mundial do Habitat - World Habitat Day foi estabelecido em 1985 pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
(textos traduzidos)
Em 2015 a Infohabitar, o GHabitar e o Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade da Beira Interior, contam marcar adequadamente esta data.
Ligações recomendadas:

domingo, outubro 05, 2014

503 - Entrar na habitação, o vestíbulo de entrada (artigo). Seminário em Almada - Infohabitar 503


INFOHABITAR, ANO X, N.º 503

Antes do artigo da semana a Infohabitar tem todo o gosto de divulgar o




Seminário Internacional Planeamento Cultural Urbano em Áreas Metropolitanas

Revitalização dos Espaços Pós-Suburbanos
6 e 7 de Novembro 2014

Acessível em:

http://sipcuam-almada2014.fa.ulisboa.pt/openconf.php


Trata-se de uma temática extremamente atual e interessante, como fica claro no seguinte texto de apresentação e nos respetivos temas a tratar:


As cidades contemporâneas, que transformaram a sua imagem e economia, pensaram o seu renascimento na perspetiva de um desenvolvimento cultural, em resposta às mudanças económicas e sociais em curso. A arte e a cultura, entendidas em termos gerais, passaram a ser consideradas um requisito direto da qualidade de vida e um direito social.

Pode o Planeamento Cultural ser entendido como instrumento da política de ordenamento do território e do urbanismo, ao lado de outras figuras do planeamento e da construção das cidades?

Nas áreas metropolitanas, onde o património construído não possui tradição, pode o património cultural imaterial ser tomado como referência para uma estratégia de formação da identidade do território e das comunidades urbanas?


Sobre estas questões o Seminário "Planeamento Cultural Urbano em Áreas Metropolitanas", pretende ser uma oportunidade de debate técnico e científico na perspetiva da criação de uma engenharia da cultura que usando uma análise contemporânea, examine como e porque as culturas têm sido planeadas e de que forma tem sido considerada a inclusão das condições culturais no planeamento das cidades, visando o desenvolvimento sustentado e a qualificação dos espaços de crescimento rápido e não programado das áreas pós-suburbanas.


A economia cultural das cidades, associada ao turismo, à tecnologia e à mudança social, tende a suportar a produção de uma indústria cultural, a qual cria por sua vez uma poderosa vantagem competitiva que ajuda a reforçar o sentido de identidade entre as comunidades urbanas.


Temas a tratar no Seminário:

Espaço pós-suburbano, património imaterial e movimento associativo / Post-suburban space, intangible heritage and associative movement.


Arte e cultura, factores de identidade urbana e ativação da economia / Art and culture, factors of urban identity and economy activation.


Engenharia da cultura e planeamento urbano / Culture engineering and urban planning.


Processos de inovação e criatividade na revitalização do espaço pós-suburbano / Inovation and creativity process in post-suburban space revitalization.


Artigo da semana da Infohabitar

Artigo LXII da Série habitar e viver melhor
Entrar na habitação, o vestíbulo de entrada
António Baptista Coelho

Continuando a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os seus espaços comuns, vamos, agora, falar com algum detalhe sobre os espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam.

Primeiro viajaremos pelos espaços domésticos comuns, isto é aqueles que são usados por todos os habitantes de uma dada casa ou apartamento numa base geral de uso partilhado e de alguma comunidade; depois iremos até aos espaços domésticos privativos, portanto aqueles mais amigos de um uso individual, ou muito ligado ao casal.

São os seguintes os espaços domésticos comuns a abordar, sequencialmente, em artigos desta série: vestíbulo de entrada, lavabo, corredor e zonas de passagem, sala ou zona de estar, cozinha, áreas de serviço para arrumações, verdadeiras pequenas áreas de serviço - lavandaria e rouparia, zona de refeições ou sala de jantar, casa de banho, varanda e outras zonas exteriores privadas elevadas como pátios e pequenos quintais, virtualidades domésticas do estacionamento em garagem.

No presente artigo serão abordados diversos aspetos a ter em conta no projeto de espaços de entrada habitacionais - vestíbulos.

(Nota geral: porque boa parte dos textos que servem de base a esta série editorial estão elaborados desde há algum tempo, eles não cumprem as regras do Acordo  Ortográfico).

Opções de vestíbulo

A definição de vestíbulo refere-se ao “espaço entre a via pública e a entrada dum edifício”, ao “espaço entre a porta dum edifício e a principal escadaria interior” e a “uma cavidade orgânica que serve de entrada a outra” (Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Francisco Torrinha, Porto, Domingos Barreira Editor, 1945).

Uma ideia que pode ficar é que o vestíbulo, ou espaço de entrada numa habitação, corresponde a um espaço de limiar e de transição entre o espaço público ou comum (no caso de se tratar de um edifício multifamiliar) e o espaço doméstico privado, embora este considerado também numa perspetiva de espaço doméstico comum.

Seja qual for a forma, a dimensão e as características de maior ou menor encerramento ou de maior ou menor autonomia vivencial de um vestíbulo doméstico é essencial, para que haja satisfação no seu uso, que ele cumpra tais condições; condições que têm a ver, essencialmente, com algum desafogo espacial próprio e com uma relação visual controlada com os restantes espaços da habitação.

É, assim, importante que num vestíbulo doméstico seja possível receber alguém estranho à casa numa situação de porta aberta ou, até, eventualmente, entreaberta, sem haver a tendência natural a convidar essa pessoa a entrar, o que obrigará a condições adequadas nos próprios patins comuns. E será interessante que seja possível convidar o visitante a entrar, mas recebendo-o, estritamente, no próprio vestíbulo, uma situação que obrigará quer a um dimensionamento razoavelmente folgado deste espaço, quer a uma sua situação na habitação que, num caso destes, não provoque uma desagradável intrusão no espaço doméstico.

Associado a estes aspectos podemos concluir que o vestíbulo é um espaço onde devemos poder mostrar o que queremos mostrar da nossa casa, e, especificamente, os elementos de arranjo interior que mais apreciamos e que mais revelam a identidade que queremos revelar a quem nos visita; e para tal há que ter um mínimo de condições de espaciosidade e de autonomia de arranjo deste espaço relativamente ao resto da casa.

Havendo espaço e ambiente para tais condições existirão, sem dúvida, condições de funcionalidade para apoio a diversas actividades associadas com o acesso ao nosso mundo doméstico e com a saída, deste mundo, para a rua, que poderá, passar pelo espaço intermédio e comum do patim, da galeria e dos restantes espaços de uso comum de um dado edifício.

E é muito interessante este papel de intermediação, essencialmente doméstica, associado a um outro papel de intermediação comum ou colectiva.

O espaço de entrada pode ser também um espaço integrado com outro espaço da casa claramente afirmado, e é possível criarem-se conjugações extremamente interessantes, seja, mais facilmente em edifícios unifamiliares – em que o limite está na própria imaginação -, seja em apartamentos de multifamiliares onde é, realmente, possível desenvolver associações eficazes e estimulantes, por exemplo entre um espaço de cozinha convivial e a única entrada na habitação, ou entre uma entrada mais “de cerimónia” e um espaço de refeições mais cuidado, mas sempre desde que as condições de conforto ambiental fundamentais estejam garantidas, por exemplo em termos de luz natural e de ventilação.

Vestíbulo: associações interessantes

A existência de luz natural é uma das associações pouco frequentes, nos casos de edifícios multifamiliares, mas muito estimulantes na entrada de uma habitação.
Uma outra associação refere-se a uma equilibrada continuidade ambiental entre os átrios privados e os espaços públicos, comuns ou privados que lhes dão acesso.

Quando a relação é feita, directamente, com o espaço exterior a entrada poderá ser decomposta numa zona de passagem que funciona como “quebra-vento”, conseguindo-se, tanto um melhor isolamento térmico e acústico do interior do fogo e a sua acrescida privatização, como uma maior funcionalidade/limpeza do interior doméstico; nesse espaço as pessoas limpam-se da sujidade que arrastam da rua, preparando-se para entrar num espaço mais protegido e íntimo.

Vestíbulo: hábitos interessantes

Em termos de situações que eram habituais e que faziam algum ou muito sentido, deseignadamente, num habitar tradicional salienta-se a possibilidade de se entrar quase directamente para uma zona de referições mais formal, um pouco numa ideia de se ser recebido e de se passar, com naturalidade, para uma recepção à mesa, bem acompanhada e calorosa; e esta é uma possibilidade que pode ter interessantes aproveitamentos seja quando há áreas reduzidas, seja quando há um espaço exterior privativo na continuidade do vestíbulo.

Ainda uma outra associação refere-se, naturalmente, a uma relativa continuidade entre o entrar em casa e o espaço de estar, situação que pode ter aproveitamentos espaciais estimulantes, mas que, no entanto, estará sempre associada à existência de um outro acesso à habitação, um acesso alternativo que propicie relações mais discretas e íntimas.

Vestíbulo: aspectos motivadores

Segundo Sven Thiberg, a entrada pode subdividir-se em duas zonas, sendo uma delas um vestíbulo de entrada apenas integrando a porta de entrada e equipamentos de apoio à entrada e à saída na habitação (não existindo outras portas nesta zona), e sendo a outra um espaço em continuidade com o primeiro, mas servindo já, e fortemente, a circulação interior no fogo (1); desta forma desenvolve-se como que uma relação estratégica e simultânea de separação e de ligação.

Vestíbulo: problemas correntes

Os problemas mais frequentes estão ligados, naturalmente, à falta de espaço, e não se assumindo uma clara ausência de vestíbulo, obrigando-se as pessoas a manobras, quase "ridículas", quando entram e saem, aspectos estes que se tornam ainda mais críticos quando há visitas.

Associada a esta matéria temos os problemas, frequentemente graves, da falta de privacidade que podem gerar a quase inutilização do uso de uma sala-comum para a qual abra, sem qualquer protecção visual, a porta da habitação.

E há que considerar que esta questão da privacidade é fundamental, no sentido de se procurar uma verdadeira satisfação doméstica, num bom equilíbrio entre privacidade e sociabilidade, pois quando não existe um vestíbulo que bloqueie vistas indesejadas sobre o interior doméstico não é só o “à vontade” da vivência na habitação que fica em risco, mas também a possibilidade do convívio, nunca bem-vindo, porque sempre “obrigatório”.

Finalmente, os problemas também se ligam ao desenvolvimento de amplos espaços de entrada sem condições para poderem ser usados como espaços úteis (por exemplo, sem luz natural e sem uma configuração adequada), mas dispondo de um amplo dimensionamento e que acabam, assim, por constituir verdadeiras zonas "mortas" no “centro estratégico” da habitação.

Vestíbulo: questões levantadas (dimensionais e outras)

A questão do dimensionamento da entrada tem muito a ver com as condições de espaciosidade disponíveis nos espaços comuns do edifício, pois são muito diferentes as condições proporcionadas por um pequeno “hall” privado servido por um grande patim comum com uma zona semi-privatizada contígua à porta do fogo, ou aquelas condições permitidas por um pequeno “hall” de entrada privado e contíguo a um espaço comum apertado e basicamente de passagem.

Considera-se interessante que num vestíbulo se possa conversar guardando distâncias convenientes, entre os interlocutores, e que se possa abrir e fechar a porta, a partir do interior da habitação, facilitando a entrada a outra pessoa que transporte, por exemplo, um objecto volumoso.

Considera-se, assim, que o vestíbulo deve proporcionar um desafogo espacial equilibrado no apoio a um conjunto de acções de recepção e de passagem entre a habitação e o seu exterior, afectando-se ao mínimo a vida doméstica; havendo desafogo espacial o vestíbulo pode assumir funções específicas como mais um compartimento da habitação, mas para tal deve ter adequadas condições ambientais e de configuração, caso contrário acaba por ser um espaço quase “perdido”.

Vestíbulo: novidades, dúvidas e tendências (ex., trabalho em casa; idosos, etc.)

Uma questão importante é que o vestíbulo proporcione a melhor visibilidade e o melhor controlo possível relativamente ao acesso à habitação, uma matéria que deverá ser aprofundada de modo a poder-se ter um máximo de visibilidade desde o interior da habitação, com a porta fechada, sobre a zona contígua e exterior à habitação, com um mínimo de espaços onde seja possível a alguém esconder-se.

Considerando-se o desenvolvimento, cada vez mais frequente, do trabalho profissional em casa, será de privilegiar a existência de vestíbulos bem separados do restante espaço doméstico com excepção de um compartimento ou de parte de um compartimento onde se possa desenrolar essa actividade; zonas estas que poderão ser, eventualmente, ainda mais autonomizadas da restante habitação, gozando, por exemplo, de um acesso autónomo e da relação directa com uma pequena casa de banho. E é interessante que uma tal possibilidade poderá permitir, em alternativa ou cumulativamente, o apoio ao desdobramento familiar (por exemplo, jovens ou idosos vivendo junto da restante família, mas com autonomia).

E é interessante lembra que na era das tecnologias de informação pode ser que o vestíbulo doméstico possa ser ainda caracterizado por outros aspectos que façam sobressair a relação estimulante com a vizinhança e, indirectamente, com a cidade.
Finalmente, importa sublinhar que o vestíbulo doméstico deve ser um espaço de algumas funcionalidades e de um máximo de identidade(s), e deve ser também, verdadeiramente, um limiar, que nos privatize em nossa casa e que nos relacione estrategicamente com o seu exterior.

Notas:

 (1) Sven Thiberg(Ed.), "Housing Research and Design in Sweden", p. 164.


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INFOHABITAR Ano X, nº 503
Artigo LXII da Série habitar e viver melhor
Entrar na habitação, o vestíbulo de entrada
Editor: António Baptista Coelho – abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.