domingo, maio 10, 2015

532 - O espaço de cozinha: novidades e tendências - Infohabitar 532




Últimas notícias: o 3.º CIHEL recebeu 118 propostas de artigos.

Infohabitar, Ano XI, n.º 532

O espaço de cozinha: novidades e tendências

António Baptista Coelho

Artigo LXXIX da Série habitar e viver melhor


Continuamos, em seguida, a Série editorial sobre "habitar e viver melhor", na qual temos acompanhado uma sequência espacial desde a vizinhança de proximidade urbana e habitacional até ao edifício multifamiliar, e neste os seus espaços comuns.
Estamos agora a abordar , com algum detalhe, os espaços que constituem os nossos “pequenos” mundos domésticos e privativos, refletindo sobre as diversas facetas que os qualificam; e concluímos hoje a reflexão sobre o espaço de cozinha.

O espaço de cozinha: novidades e tendências


A cozinha como zona de refeições

Uma excelente solução, embora ainda pouco habitual, é a integração de uma atraente zona de preparação de refeições num espaçoso compartimento multinacional, marcado pelo convívio informal e familiar.
E, de certa forma, esta solução pode concretizar-se em duas opções distintas:
- uma sala-comum onde se integra um espaço de kitchenete;
- ou uma cozinha-sala de família, onde o espaço de preparação de refeições assume um protagonismo forte e digno.

Fig. 01: Zona de cozinha e de refeições de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 33 - 34, Arquitetura: Greger Dhalström.

A cozinha como espaço bem equipado

É importante referir que o falar-se de kitchenetes não significa que estas não possam dispor de um excelente potencial funcional em termos de preparação de refeições; podendo constituir-se em espaços plenamente equipados, até no sentido de poderem minimizar ao máximo os incómodos ambientais (ex., ruído, cheiros) nas zonas contíguas.
E, portanto, mais do que uma relação direta entre números de quartos e tipos de cozinhas, devemos considerar, a partir de uma adequada base funcional para cozinhar em boas condições próprias e de influência na restante vida doméstica (exemplo, ruídos, cheiros, vapores), opções de habitar que favoreçam ambientes específicos, tal como acabaram de ser apontados.


Relação entre dimensão da habitação e espaço de cozinha

Naturalmente, que os pequenos apartamentos estarão mais adequados a soluções em kitchenete, mas é perfeitamente possível e adequado pensar, por exemplo, num pequeno apartamento estruturado, por exemplo, em torno de uma espaçosa cozinha-sala de família, ou dispondo de uma espaçosa e “clássica” cozinha onde se possam tomar refeições, assim como é possível imaginar um grande apartamento onde apenas existe uma kitchenete, embora extremamente bem equipada em termos funcionais e “maquinais”.

Fig. 02: Zona de cozinha e de estar de habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 36 - 37, Arquitetura: Bengt Hidemark, Ingemar Jönsson.

Adequação a diversos modos/formas de habitar

E todas estas opções marcam diversas formas de fazer um habitar privado e bem caracterizado pelas formas de habitar de quem o vive; formas bem distintas das ordinárias soluções industrializadas de tantas cozinhas que conhecemos, e que acabam por se definir como verdadeiros eletrodomésticos gigantes, que mais do que usar, acabamos por ter de, nós próprios, servir no dia-a-dia (limpar, arrumar, manter, “não riscar”, etc.).


Novos espaços de preparação de refeições

Talvez que as pessoas não apreciem as "cozinhas laboratório", tal como apontou M. Imbert (1), talvez que se aceitem bem as cozinhas mais pequenas, quando se dispõe de um espaço específico para refeições, talvez seja agradável, aquela “solução à americana", em que a preparação de refeições está totalmente integrada numa sala de família, que pode ser o espaço de refeições e de convívio diário e "à vontade", onde as crianças brincam e trabalham e onde se vê televisão.
E importa aqui salientar o enorme potencial de convívio que têm hoje em dia os espaços de cozinhas; e um potencial que é estratégico numa sociedade atual marcada pelo isolamento doméstico e pelo individualismo.
Cristopher Alexander  (2) defendia, já há bastante tempo, que a função de cozinhar deve ser recuperada como elemento quotidiano animador da vida familiar, através da sua integração com o estar familiar e por uma relação direta com as restantes áreas comuns da habitação.
De certa forma é também insistir, estrategicamente, na intensificação das relações face a face, nesta era globalizada e "internetizada", também no interior da habitação.


Cozinha multifuncional como um novo espaço doméstico

Considerando essa referência do espaço de cozinha como elemento quotidiano animador da vida familiar, lembremos que diversas pessoas podem trabalhar conjuntamente numa grande e bem iluminada cozinha, com bancada alongada, mesa de refeições espaçosa e, até, por exemplo, um recanto para um sofá (3); transforma-se, assim, a cozinha num espaço doméstico de convívio pleno de potencialidades funcionais, formais e de dinamização da vida privada.
E com certeza que todas estas possibilidades e outras acima apontadas serão sempre preferíveis a soluções estereotipadas onde, tantas vezes, o espaço está lá apenas para que as pessoas se movimentem no trabalho que executam nas bancadas de cozinha, quase como se fossem robots.


Cozinha multifuncional adequada a idosos e jovens

E atente-se que uma cozinha-sala, bem configurada, é um compartimento com grande utilidade, quer ao serviço da informalidade em fogos para jovens casais e vivendo sós, quer ao serviço da estratégica concentração de atividades e espaços, em fogos para idosos, nomeadamente, quando estes precisam de ajudas na cozinha e quando já se caracterizam por algumas dificuldades de movimentação.


Diversas imagens da cozinha

Quanto à imagem mais “tecno” ou mais “rústica” de uma cozinha ela terá de ficar à escolha de quem a vá usar, no entanto algo diz que nos sentimos muito mais “em casa”, num ambiente caloroso, e é, pelo contrário, difícil de imaginar o cozinhar em cozinhas laboratório, revestidas a metal reluzente, isto, pelo menos, quando somos nós próprios a viver/usar realmente tais espaços.

Fig. 03: Zona de cozinha que é, também, a única zona de acesso a uma habitação do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - H 35, Arquitetura: Kai Wartiainem, Ingrid Reppen.

Cozinha-sala de estar e cozinha sala de família

Para concluir esta temática, a perspectiva de uma cozinha-sala de estar e de família pode ser considerada de duas formas distintas:
- uma delas, relativamente corrente, em que tal espaço surge como alternativo a outros espaços de estar, numa solução tão associável a habitações amplas, como até a habitações com controlos de área, assegurando-se, neste caso, possibilidades de usos diversificados tanto na pequena sala-cozinha, como na pequena sala-comum que com ela estará conjugada;
- e uma outra, menos corrente e sempre mais discutível, em que existe, realmente, apenas uma única zona para cozinhar, refeições e estar, uma solução tanto menos corrente e adequada, quanto maior for a habitação em termos de número de quartos.
E pode haver, ainda, inovações radicais como aquele em que uma ampla cozinha, bem assumida como tal, para espaço essencialmente dedicado à preparação de refeições, integra, também, a única entrada na habitação.

References


Referências/notas
(1) M. Imbert, "Mission d'Études de la Ville Nouvelle du Vaudreil", p. 12.
(2) Christopher Alexander; Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje de Patrones", pp. 587 e 588.
(3) Sven Thiberg(Ed.), "Housing Research and Design in Sweden", p. 122.


Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:

As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.

Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.

A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.

Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XI, n.º 532
Artigo LXXIX da Série habitar e viver melhor
O espaço de cozinha: novidades e tendências

Editor: António Baptista Coelho 
abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional

Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

Sem comentários :