domingo, abril 03, 2016

576 - Espaços comuns habitacionais conviviais - Infohabitar n.º 576


Infohabitar, Ano XII, n.º 576

Espaços comuns habitacionais conviviais - Infohabitar n.º 576

– Infohabitar n.º 576
António Baptista Coelho
Artigo XCIII da Série habitar e viver melhor


Espaços comuns para além das circulações

Os principais aspectos motivadores do uso de espaços comuns suplementares aos estritamente dedicados a acessos e circulações, têm a ver com motivadoras condições de acessibilidade, espaciosidade, conforto ambiental – luz natural, isolamento acústico (proporcionando festas), climatização –, equipamento e arranjo interior. E que não haja qualquer dúvida que apenas quando estas condições são extremamente apetecíveis as pessoas terão alguma tendência a saírem dos seus “mundos privados” e a “arriscarem” um maior convívio condominial; e lembremos os espaços de estar dos hotéis e em que condições eles nos atraem mais, e a situação de atracção ou de repulsão é idêntica.

Lembremos que a agradabilidade geral e, diga-se até, uma estimulante curiosidade na vivência de qualquer espaço comum é, claramente, um factor que qualifica positivamente o seu uso, e estamos aqui a referirmo-nos aos espaços comuns estritamente necessários – patins, escadas, galerias -, enquanto que condições opostas aquelas, portanto definindo espaços comuns pouco agradáveis, porque com espaciosidade, desconforto ambiental – sem luz natural, acusticamente mal concebidos (reverberantes) e muito frios ou muito quentes consoante as estações –, e ambientalmente monótonos e pobres, são condições que tornam a vivência comum muito pouco agradável desde logo nas circulações que se têm de fazer, obrigatoriamente, no edifício e que levarão ao abandono de outros espaços comuns assim caracterizados.

Fig. 01:  é essencial que os espaços comuns sejam ambiental e pormenorizadamente agradáveis, estimulantes e verdadeiramente humanizados -   - habitações do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Johan Nyrén.

Cuidados a ter na “invenção” de novos espaços comuns

Os problemas correntes em espaços comuns suplementares terão, frequentemente, a ver com aspectos de gestão e de harmonização no uso destes espaços, seja numa sua vivência normal, do dia-a-dia, pois um grupo limitado de vizinhos será, sempre, um motivo potencial quer de convivialidade, quer de conflito, seja em acções de usufruto desses espaços por grupos familiares específicos, por exemplo por ocasião de festas de aniversário.

Sobre esta matérias não haverá grandes receitas a não ser a elaboração de um regulamento de condomínio e específico de enquadramento do uso desses espaços que seja tão completo como simples e claro na sua compreensão, a existência de uma gestão de condomínio eficaz e com presença o mais possível contínua – o que poderá implicar gastos suplementares e/ou opções por condomínios de maior dimensão – e, na base de tudo isto um conjunto de espaços e de equipamentos de condomínio que aliem as referidas qualidades vivenciais a um máximo de facilidade de gestão e de manutenção, com um mínimo de potenciais más influências ambientais (por exemplo ruído, luz, movimentação) nos espaços comuns em maior contiguidade com os apartamentos.

Um problema corrente e inibidor do funcionamento de espaços comuns mais afirmados é qualquer sentido de “quase obrigatoriedade” no uso de outros espaços comuns que não aqueles estritamente necessários para o acesso à habitação; não tenhamos qualquer dúvida que qualquer dimensão comum suplementar à estritamente necessária tem de ser totalmente assumida como uma escolha própria de cada habitante, devendo haver uma separação maximizada entre espaços comuns “obrigatórios” (de acesso) e outros espaços comuns “alternativos”, só assim o convívio comum será uma opção livre e estimulante, de outra forma ele terá muito poucas possibilidades de se radicar e dinamizar.


Fig. 02: a questão da procura de espaços comuns que propiciem algum desenvolvimento de convívio natural entre vizinhos é matéria de relevante importância, designadamente, no mundo atual tão individualista e tão expressivamente protector da privacidade, sendo matéria que ganha enorme relevância quando se trata de soluções de edifícios com algum caráter comunitário ou de comunidade de serviços/equipamentos  - habitações do conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Gorän Mansson, Marianne Dahlbäck.

Convívio nos espaços comuns habitacionais

A principal e fundamental questão que se pode colocar é se em edifícios multifamiliares correntes, isto é, marcados essencialmente pelos respectivos apartamentos e sem objectivos específicos de uma vivência comum mais acentuada, haverá interesse no aprofundamento desta dimensão potencialmente mais convivial, ou, pelo menos, mais desafogada na caracterização do nível comum do edifício.

Sobre este assunto poderemos, desde já, apontar que haverá algumas opções a ter em conta: se a operação é marcada por objectivos específicos de economia; se é possível introduzir características de espaciosidade um pouco mais desafogadas em certas zonas estratégicas; e se há tendências de convivialidade comum que interesse apoiar e dinamizar.

E vale a pena reflectir que um pouco mais de espaço comum, além do estritamente necessário, pode custar muito pouco mais e proporcionar uma vivência comum no acesso aos apartamentos muito mais agradável, estimulante e, eventual e naturalmente convivial; e tais condições podem ser simplesmente previstas em patins e átrios ligeiramente mais espaçosos, bem cuidados e bem equipados, e com tais condições pode-se conseguir um edifício com uma dimensão “comum” que não sendo muito especial é, no entanto, muito mais especial do que os simples e tantas vezes claustrofóbicos espaços-canal de acesso rápido ao apartamento de cada um.

Por fim, deve ser sempre possível optar não por um edifício “multifamiliar”, mas por um verdadeiro edifício de “habitação colectiva”, onde haja um verdadeiro nível de habitar em comum, através de espaços, equipamentos e serviços comuns específicos, suplementares ao nível habitacional privativo.

Ainda além desta opção também deve ser possível a opção por uma habitação comunitária – em termos essencialmente funcionais e/ou em termos de verdadeira opção de vida –, em que tais espaços, equipamentos e serviços comuns específicos terão maior desenvolvimento e o nível habitacional privativo esteja, eventualmente, reduzido, essencialmente, aos espaços tipo suite privativa mínima – com diversos “pacotes” de equipamentos próprios; e mesmo esta opção mais comunitária pode ser tomada em conjugação com habitações privativas extensamente desenvolvidas (há muitos casos destes no Norte da Europa), pode caracterizar soluções com forte afinidades hoteleiras, em que o espaço comunitário alberga um leque bem definido de serviços, ou pode ter uma verdadeira dimensão comunitária de partilha de uma boa parte das actividades domésticas.

E a principal questão que se quer deixar, aqui, sublinhada, é que é possível e é desejável poder oferecer mais este leque de opções de viver em comum. De certa forma aqui também se trava a luta entre continuar a fazer sempre a mesma solução corrente – esquerdo/direito, patim pequeno etc. – depois prolongada por habitações sempre iguais – hall, zona de quartos, suite – ou saber oferecer verdadeira diversidade de soluções de habitar, que possam mexer, realmente, com o nosso dia-a-dia, desde que entramos no nosso prédio, até que nos retiramos para repousar um pouco no nosso quarto.

·          Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
·        Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XII, n.º 576
Artigo XCIII da Série habitar e viver melhor

Os novos espaços comuns habitacionais conviviais, Infohabitar n.º 576


Editor: António Baptista Coelho – abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional, Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade da Beira Interior - MIAUBI
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.



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