Infohabitar,
Ano XII, n.º 584
Grande variedade de quartos - Infohabitar n.º 584
António Baptista Coelho
Artigo
CI da Série habitar e viver melhor
Atualidade:
4.º
Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono,
desta vez associado a uma série de atividades, e a diversas cidades, decorrerá
novamente em Portugal, entre 5 e 10 de março de 2017; muito em breve, aqui na
Infohabitar, terá início o lançamento do 4.º CIHEL.
Neste artigo da “Série habitar e viver melhor”, terminamos
a abordagem da temática do projeto arquitetónico dos quartos domésticos.
Várias zonas de quartos
Naturalmente, consoante a
dimensão da habitação, mas podendo aplicar-se, logo, a partir de habitações com
apenas dois quartos – habitualmente designadas por T2, o que se refere a Tipo 2
(quartos), podemos edevemos privilegiar o desenvolvimento de várias pequenas
zonas de quartos – por exemplo cada uma delas com um ou dois quartos, uma casa
de banho e arrumações comuns –, considerando-se que cada uma delas possa ser
utilizada com relativa independência em cada um dos seus respectivos quartos,
ou, eventualmente, de forma unificada mediante a utilização de cada um dos dois
quartos por uma pessoa, ou através do uso de um dos quartos como espaço de
dormir e o outro como uma saleta privada, ou como espaço de trabalho ou lazer
recatado.
Uma habitação mais adaptável e estimulante
Uma ideia como esta resulta na
organização diversificada de uma habitação em várias zonas mais íntimas ou mais
privadas, o que atribui a essa habitação um potencial de adaptabilidade e de
adequação muito superior ao que caracteriza uma habitação com uma única zona
“íntima” ou de quartos; o que naturalmente resultará numa habitação mais
caraterizada e estimulante.
Esta opção também tem a dupla
vantagem de proporcionar uma integração da casa de banho mais “indirecta”,
relativamente ao espaço de dormir, o que será interessante no que se refere à
separação das respectivas funções e de permitir que uma casa de banho possa
funcionar praticamente como “privativa”, por exemplo, de dois quartos.
Verdadeiras “suites”
Podemos, ainda, sublinhar que
se fizermos suites, então devemos tirar desta linha de desenvolvimento
doméstico todo o partido que se já possível, na referida perspectiva de dotar a
habitação com excelentes e diversos níveis de leitura e vivência, podendo
chegar-se a este nível mais privado com a revelação de um ambiente extremamente
cativante, humanizado, funcionalmente diversificado e atraentemente ligado ao
exterior.
Espaços domésticos bem individualizados e apropriados
Há que considerar que cada
criança "luta pela possibilidade de jogo, de luz, de porta
aberta...", podendo sentir-se demasiado isolada se dormir só, num
compartimento clássico, com acesso por uma zona de circulação
"impessoal", podendo ser criados grupos de alcovas, ou
microcompartimentos individuais (mínima mas completamente equipados, com cama,
posto de trabalho e mini-estantes), que, eventualmente, rodeiem um espaço comum
de jogos e convívio (1).
E evidentemente o que aqui se
refere para as crianças aplica-se, talvez ainda com maior força, aos
adolescentes e jovens adultos, que devem ter o seu quarto, ou no mínimo um seu “canto”
bem privatizado e apropriável.
Desta forma proporcionam-se
espaços privatizados, que até podem ser espacialmente contidos, mas bem
articulados por espaços mais comuns e diversificados, que não se limitam à
habitual sala comum, tão disputada e tantas vezes pouco apropriável, em favor
de um certo sentido de representação/formalidade doméstica.
Alcovas
Christopher Alexander (2) aponta
alguns aspectos relativos ao desenvolvimento de alcovas para dormir e repousar,
sublinhando que elas devem ter
configurações simples e pormenorizações claras, podem ter áreas relativamente
folgadas (caracterizando-as como verdadeiros espaços privativos mas não
totalmente autonomizados), devem poder ser vedadas em termos de privacidade
visual, e devem ter condições de iluminação e ventilação bem garantidas,
desejavelmente, por janela própria.
Fig. 01: pequenos
quartos em pequenas habitações – neste caso do tipo T1 - sem portas entre boa parte das diversas
zonas domésticas – habitação integrada no conjunto urbano "Bo01 City
of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö
em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Asklund & Jansson.
Diversidade de quartos
Da grande suite super-equipada
à alcova mínima há um amplo leque de possibilidades de figuras formais e
funcionais de quartos.
Finalmente, há que sublinhar
duas claras tendências, bem distintas, mas ambas bem efectivas nos dias de hoje
e associadas aos quartos.
Quartos e suites para idosos
Somos uma sociedade cada vez
mais idosa e no que se refere a novidades e tendências nesta matéria do dormir
doméstico sublinha-se a importância que tem, cada vez mais, o dormir de pessoas
idosas, que tem reflexos: funcionais, no que se refere a uma mais desenvolvida
facilidade nas actividades de apoio ao dormir/repousar; ambientais, por
exigências de privacidade, sossego e segurança acrescidas; de relação com casas
de banho e aqui esta integração ou grande proximidade tem uma importância muito
especial e deve associar-se a boas condições no uso dessas casas de banho; e de
potencial desenvolvimento de “pequenos mundos” razoavelmente privativos e
potencialmente bem apropriados, que permitam uma vivência pessoal aprofundada,
embora em grande relação com a restante família, ou numa retirada estratégica
para um espaço mais controlável e multifuncional dentro de uma casa maior.
É, portanto, essencial, que os
espaços da habitação dedicados aos quartos tenham acrescidas e exigentes
condições de sossego e conforto ambiental.
Quarto de trabalho
E a outra tendência actual bem
vincada e que já tratámos neste trabalho refere-se à habitação que, cada vez
mais, se torna um sítio de trabalho, e mesmo mais: um sítio de agregação de
pessoas que além de lá habitarem, lá, também, desenvolvem as suas actividades
profissionais segundo um horário extremamente flexível e cada vez mais numa
potencial perspectiva de "jornada contínua"; e esta matéria tem
implicações seja na espaciosidade de cada quarto - sítio de dormir, lazer e
trabalho -, seja na sua localização na habitação, que não deve estar relegada/degredada
para a tal zona íntima, onde "antes", essencialmente, se dormia, e
hoje se terá de dormir e trabalhar, e atenção que, cada vez mais, não é uma
única pessoa a precisar de um espaço deste tipo, praticamente todos os membros
da família têm essa necessidade.
Quarto como lugar de individualidade
Para concluir esta temática
salienta-se que um outro aspecto a ter em conta de forma muito específica
nestas temáticas habitacionais ligadas à concepção dos compartimentos/quartos,
é a importância que pode ter o quarto/compartimento individual numa sociedade
cada vez mais individualista e composta por muitas pessoas sós, seja numa
perspectiva de habitações integradas por quartos/compartimentos com uma forte
capacidade de apropriação e vivência individual e de compatibilidade de
agregação na totalidade da habitação, durante muito longos períodos temporais.
A pequena habitação – pouco mais do que um grande quarto
Tudo isto obriga também a uma
estruturação específica de tais habitações, seja numa perspectiva reforçada e
diversificada de oferta de quartos/habitações dos tipos T0 ou T1, extremamente
bem elaborados num equilíbrio sólido entre as funções clássicas do quarto e as
restantes funções de uma habitação, incluindo nelas as novas funções do
trabalho em casa.
Pela importância que se
reconhece a estas matérias nas novas formas de habitar elas são um pouco mais
desenvolvidas na parte final desta série editorial, num conjunto de artigos
referido ao tema "das novas grandes habitações de uso livre e adaptável
aos renovados quartos/casas".
Notas:
(1)Christopher Alexander; Sara
Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje de
Patrones", pp. 601 a 603.
(2) Christopher Alexander;
Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje
de Patrones", pp. 762 e 763.
·
Nota importante sobre as
imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão,
também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas
pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional
"Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta
exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de
exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho
Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca
das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades
Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio
financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao
desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia
energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca
da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo
bairro de Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das
principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as
imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos
projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de
imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos
respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os
respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de
arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas
desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as
frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação
aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências
aos respetivos projetistas de arquitetura.
·
Notas
editoriais:
(i) Embora a edição dos
artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo
editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um
significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e
comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos
respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva
responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o
mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e
científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito
significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver
com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo
GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à
respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas
e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do
teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou
negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi
recebido na edição.
Infohabitar, Ano XII, n.º 584
Artigo
CI da Série habitar e viver melhor
Grande
variedade de quartos - Infohabitar n.º 584
Editor: António Baptista
Coelho
– abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade
Habitacional, Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade da Beira Interior - MIAUBI
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação -
Olivais Norte.