domingo, maio 29, 2016

584 - Grande variedade de quartos - Infohabitar n.º 584

Infohabitar, Ano XII, n.º 584

Grande variedade de quartos - Infohabitar n.º 584

António Baptista Coelho
Artigo CI da Série habitar e viver melhor

Atualidade:

4.º Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono, desta vez associado a uma série de atividades, e a diversas cidades, decorrerá novamente em Portugal, entre 5 e 10 de março de 2017; muito em breve, aqui na Infohabitar, terá início o lançamento do 4.º CIHEL.

Neste artigo da “Série habitar e viver melhor”, terminamos a abordagem da temática do projeto arquitetónico dos quartos domésticos.

Várias zonas de quartos


Naturalmente, consoante a dimensão da habitação, mas podendo aplicar-se, logo, a partir de habitações com apenas dois quartos – habitualmente designadas por T2, o que se refere a Tipo 2 (quartos), podemos edevemos privilegiar o desenvolvimento de várias pequenas zonas de quartos – por exemplo cada uma delas com um ou dois quartos, uma casa de banho e arrumações comuns –, considerando-se que cada uma delas possa ser utilizada com relativa independência em cada um dos seus respectivos quartos, ou, eventualmente, de forma unificada mediante a utilização de cada um dos dois quartos por uma pessoa, ou através do uso de um dos quartos como espaço de dormir e o outro como uma saleta privada, ou como espaço de trabalho ou lazer recatado.

Uma habitação mais adaptável e estimulante

Uma ideia como esta resulta na organização diversificada de uma habitação em várias zonas mais íntimas ou mais privadas, o que atribui a essa habitação um potencial de adaptabilidade e de adequação muito superior ao que caracteriza uma habitação com uma única zona “íntima” ou de quartos; o que naturalmente resultará numa habitação mais caraterizada e estimulante.
Esta opção também tem a dupla vantagem de proporcionar uma integração da casa de banho mais “indirecta”, relativamente ao espaço de dormir, o que será interessante no que se refere à separação das respectivas funções e de permitir que uma casa de banho possa funcionar praticamente como “privativa”, por exemplo, de dois quartos.


Verdadeiras “suites”

Podemos, ainda, sublinhar que se fizermos suites, então devemos tirar desta linha de desenvolvimento doméstico todo o partido que se já possível, na referida perspectiva de dotar a habitação com excelentes e diversos níveis de leitura e vivência, podendo chegar-se a este nível mais privado com a revelação de um ambiente extremamente cativante, humanizado, funcionalmente diversificado e atraentemente ligado ao exterior.

Espaços domésticos bem individualizados e apropriados

Há que considerar que cada criança "luta pela possibilidade de jogo, de luz, de porta aberta...", podendo sentir-se demasiado isolada se dormir só, num compartimento clássico, com acesso por uma zona de circulação "impessoal", podendo ser criados grupos de alcovas, ou microcompartimentos individuais (mínima mas completamente equipados, com cama, posto de trabalho e mini-estantes), que, eventualmente, rodeiem um espaço comum de jogos e convívio (1).

E evidentemente o que aqui se refere para as crianças aplica-se, talvez ainda com maior força, aos adolescentes e jovens adultos, que devem ter o seu quarto, ou no mínimo um seu “canto” bem privatizado e apropriável.
Desta forma proporcionam-se espaços privatizados, que até podem ser espacialmente contidos, mas bem articulados por espaços mais comuns e diversificados, que não se limitam à habitual sala comum, tão disputada e tantas vezes pouco apropriável, em favor de um certo sentido de representação/formalidade doméstica.

Alcovas

Christopher Alexander (2) aponta alguns aspectos relativos ao desenvolvimento de alcovas para dormir e repousar, sublinhando que elas devem ter configurações simples e pormenorizações claras, podem ter áreas relativamente folgadas (caracterizando-as como verdadeiros espaços privativos mas não totalmente autonomizados), devem poder ser vedadas em termos de privacidade visual, e devem ter condições de iluminação e ventilação bem garantidas, desejavelmente, por janela própria.





Fig. 01:  pequenos quartos em pequenas habitações – neste caso do tipo T1  - sem portas entre boa parte das diversas zonas domésticas – habitação integrada no conjunto urbano "Bo01 City of Tomorrow", desenvolvido no âmbito da exposição que teve lugar em Malmö em 2001 (ver nota final) - Arquitetura: Asklund & Jansson.



Fig. 02: outra imagem da mesma habitação (vista a partir da zona de dormir). 

Diversidade de quartos

Da grande suite super-equipada à alcova mínima há um amplo leque de possibilidades de figuras formais e funcionais de quartos.
Finalmente, há que sublinhar duas claras tendências, bem distintas, mas ambas bem efectivas nos dias de hoje e associadas aos quartos.

Quartos e suites para idosos

Somos uma sociedade cada vez mais idosa e no que se refere a novidades e tendências nesta matéria do dormir doméstico sublinha-se a importância que tem, cada vez mais, o dormir de pessoas idosas, que tem reflexos: funcionais, no que se refere a uma mais desenvolvida facilidade nas actividades de apoio ao dormir/repousar; ambientais, por exigências de privacidade, sossego e segurança acrescidas; de relação com casas de banho e aqui esta integração ou grande proximidade tem uma importância muito especial e deve associar-se a boas condições no uso dessas casas de banho; e de potencial desenvolvimento de “pequenos mundos” razoavelmente privativos e potencialmente bem apropriados, que permitam uma vivência pessoal aprofundada, embora em grande relação com a restante família, ou numa retirada estratégica para um espaço mais controlável e multifuncional dentro de uma casa maior.

É, portanto, essencial, que os espaços da habitação dedicados aos quartos tenham acrescidas e exigentes condições de sossego e conforto ambiental.

Quarto de trabalho

E a outra tendência actual bem vincada e que já tratámos neste trabalho refere-se à habitação que, cada vez mais, se torna um sítio de trabalho, e mesmo mais: um sítio de agregação de pessoas que além de lá habitarem, lá, também, desenvolvem as suas actividades profissionais segundo um horário extremamente flexível e cada vez mais numa potencial perspectiva de "jornada contínua"; e esta matéria tem implicações seja na espaciosidade de cada quarto - sítio de dormir, lazer e trabalho -, seja na sua localização na habitação, que não deve estar relegada/degredada para a tal zona íntima, onde "antes", essencialmente, se dormia, e hoje se terá de dormir e trabalhar, e atenção que, cada vez mais, não é uma única pessoa a precisar de um espaço deste tipo, praticamente todos os membros da família têm essa necessidade.

Quarto como lugar de individualidade

Para concluir esta temática salienta-se que um outro aspecto a ter em conta de forma muito específica nestas temáticas habitacionais ligadas à concepção dos compartimentos/quartos, é a importância que pode ter o quarto/compartimento individual numa sociedade cada vez mais individualista e composta por muitas pessoas sós, seja numa perspectiva de habitações integradas por quartos/compartimentos com uma forte capacidade de apropriação e vivência individual e de compatibilidade de agregação na totalidade da habitação, durante muito longos períodos temporais.

A pequena habitação – pouco mais do que um grande quarto

Tudo isto obriga também a uma estruturação específica de tais habitações, seja numa perspectiva reforçada e diversificada de oferta de quartos/habitações dos tipos T0 ou T1, extremamente bem elaborados num equilíbrio sólido entre as funções clássicas do quarto e as restantes funções de uma habitação, incluindo nelas as novas funções do trabalho em casa.
Pela importância que se reconhece a estas matérias nas novas formas de habitar elas são um pouco mais desenvolvidas na parte final desta série editorial, num conjunto de artigos referido ao tema "das novas grandes habitações de uso livre e adaptável aos renovados quartos/casas".

Notas:
(1)Christopher Alexander; Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje de Patrones", pp. 601 a 603.
(2) Christopher Alexander; Sara Ishikawa; Murray Silverstein; et al, "A Pattern Language/Un Lenguaje de Patrones", pp. 762 e 763.

·         Nota importante sobre as imagens que ilustram o artigo:
As imagens que acompanham este artigo e que irão, também, acompanhar outros artigos desta mesma série editorial foram recolhidas pelo autor do artigo na visita que realizou à exposição habitacional "Bo01 City of Tomorrow", que teve lugar em Malmö em 2001.
Aproveita-se para lembrar o grande interesse desta exposição e para registar que a Bo01 foi organizada pelo “organismo de exposições habitacionais sueco” (Svensk Bostadsmässa), que integra o Conselho Nacional de Planeamento e Construção Habitacional (SABO), a Associação Sueca das Companhias Municipais de Habitação, a Associação Sueca das Autoridades Locais e quinze municípios suecos; salienta-se ainda que a Bo01 teve apoio financeiro da Comissão Europeia, designadamente, no que se refere ao desenvolvimento de soluções urbanas sustentáveis no campo da eficácia energética, bem como apoios técnicos por parte do da Administração Nacional Sueca da Energia e do Instituto de Ciência e Tecnologia de Lund.
A Bo01 foi o primeiro desenvolvimento/fase do novo bairro de  Malmö, designado como Västra Hamnen (O Porto Oeste) uma das principais áreas urbanas de desenvolvimento da cidade no futuro.
Mais se refere que, sempre que seja possível, as imagens recolhidas pelo autor do artigo na Bo01 serão referidas aos respetivos projetistas dos edifícios visitados; no entanto, o elevado número de imagens de interiores domésticos então recolhidas dificulta a identificação dos respetivos projetistas de Arquitetura, não havendo informação adequada sobre os respetivos designers de equipamento (mobiliário) e eventuais projetistas de arquitetura de interiores; situação pela qual se apresentam as devidas desculpas aos respetivos projetistas e designers, tendo-se em conta, quer as frequentes ausências de referências - que serão, infelizmente, regra em relação aos referidos designers -, quer os eventuais lapsos ou ausência de referências aos respetivos projetistas de arquitetura.
·        Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XII, n.º 584
Artigo CI da Série habitar e viver melhor

Grande variedade de quartos - Infohabitar n.º 584

Editor: António Baptista Coelho – abc@ubi.pt, abc@lnec.pt e abc.infohabitar@gmail.com
GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional, Mestrado Integrado em Arquitectura da Universidade da Beira Interior - MIAUBI
Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.



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