segunda-feira, outubro 30, 2017

616 - Inovar no espaço da cozinha doméstica - Infohabitar 616

Infohabitar, Ano XIII, n.º 616

Inovar no espaço da cozinha doméstica

– 4 artigos sobre o tema e um novo texto
por António Baptista Coelho

No início de setembro de 2017 a Infohabitar retomou as suas edições regulares, através da edição de um novo artigo em cada semana, logo à segunda-feira, aproveitando-se para, mais uma vez, enviar um amigável desafio aos leitores no sentido de poderem enviar para o editor (mail referido no final do artigo) propostas de artigos para edição (a enviar para abc@lnec.pt).

Considerando que, durante um número muito significativo de semanas a Infohabitar editou artigos integrados no âmbito da série designada “Habitar e Viver Melhor”, lembrámo-nos de proporcionar uma desenvolvida e comentada revisão desta matéria, antes de prosseguirmos na edição desta série; uma revisão que inclui, sublinha-se, sistematicamente, novos textos de síntese de comentário sobre cada uma das matérias específicas tratadas em cada edição.

Neste sentido e neste artigo apresentam-se, em seguida, os títulos interactivos dos artigos da série “Habitar e Viver Melhor”, que abordam as temáticas do interior da habitação e, designadamente, de uma adequada inovação nos espaços de cozinha doméstica, aproveitando-se para acrescentar, no final do artigo, uma nova nota de reflexão sobres estas apaixonantes matérias; e salienta-se que todos os artigos qui editados, desde início de Setembro de 2017, integram, logo a seguir à listagem interactiva dos artigos, novos textos de reflexão sobre a envolvente habitacional, as novas tipologias residenciais, a estrututação dos respectivos edifícios e a organização e estruturação habitacional.

Em próximos artigos iremos continuar a disponibilizar reflexões sobre os diversos tipos de espaços habitacionais e domésticos, mais comuns, ou mais privados e personalizados, que integram e caracterizam cada fogo/habitação.

Lembra-se que bastará ao leitor “clicar” no título do artigo que lhe interessa para o poder consultar.

Lembra-se, ainda, que por motivos alheios à Infohabitar, que muito lamentamos e que já apontámos, na Infohabitar, a maior parte dos artigos desta série editorial não conta, neste momento, com as respectivas ilustrações; estando, no entanto, disponíveis todos os seus textos, que se caracterizam por expressiva autonomia relativamente às referidas imagens; em tempo procuraremos ir repondo as referidas ilustrações, agora através de uma ferramenta integrada no próprio processo editorial do nosso blog/revista.

Finalmente regista-se que o processo editorial da Infohabitar, revista ligada à ação da GHabitar - Associação Portuguesa de Promoção da Qualidade Habitacional (GHabitar APPQH) – associação que tem a sede na Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (FENACHE) –, voltou a estar, desde o princípio de setembro de 2017, em boa parte, sedeado no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e nos seus Departamento de Edifícios e Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT); aproveitando-se para se agradecer todos os essenciais apoios disponibilizados por estas entidades.

São os seguintes os quatro (4) artigos disponibilizados sobre o tema “Inovar no espaço da cozinha doméstica:
Sobre as temáticas associadas e associáveis à matéria geral do interior da habitação e, designadamente, ao conjunto de actividades que se desenvolvem habitualmente ou que se poderão desenvolver em espaços de cozinha doméstica, podemos referir, em primeiro lugar, a importância da cozinha como espaço convivial; uma importância que marcou o espaço de cozinhar doméstico desde sempre, pois, na prática, foi este, com naturalidade, o espaço doméstico convivial de eleição na maioria das famílias, só não o sendo em situações de separação entre quem cozinhava e quem tomava as respectivas refeições, portanto quando da existência de empregados domésticos com a finalidade de preparar e servir as refeições; e a esta importante finalidade convivial do espaço de cozinha voltaremos mais à frente neste texto a propósito de variados subtemas, como são, por exemplo, o habitar dos pequenos agregados familiares e o habitar de “interesse social”.




Cruzando esta última reflexão com a nossa história próxima associada à habitação funcionalista, teremos uma altura em que se avançou e bem para a facilitação dos trabalhos domésticos, de certa forma, “maquinizando-se” os trabalhos associados à preparação e ao servir de refeições, e, no limite, atingindo-se aquilo que é frequentemente designado de “cozinha laboratório”, numa evolução que tem os seus aspectos muito positivos associados à adequada racionalização dos trabalhos de preparação e servir refeições, que são dos trabalhos domésticos mais “pesados”, mas que, por vezes, esquece que quem trabalha na cozinha de hoje e na esmagadora maioria das nossas habitações não são empregados domésticos, mas sim todos nós os membros dos respectivos agregados familiares; e que, por isso, há que harmonizar essa essencial e específica funcionalidade – que está aliás associada a outros aspectos funcionais domésticos muito importantes, designadamente, na área das arrumações especializadas – com a continuidade da integração de quem cozinha e serve refeições no âmago do respectivo agregado familiar, em termos de continuidade do respectivo convívio e do acompanhamento familiar específico de idosos e crianças.

Esta é uma matéria fundamental numa boa habitação, mais amigável, mais convivial mais familiarmente integrada e acredite-se que é matéria frequentemente muito descuidada, em favor da, naturalmente, muito mais simples racionalização das operações de preparação e serviço de refeições.


Na prática trata-se de manter na cozinha a sua velha e natural função de convívio familiar enquanto se preparam e tomam refeições, um convívio bem natural e efectivo desde o princípio da evolução do homo sapiens, quando inventámos o uso do fogo para cozinhar e a propósito do fogo e do conforto e segurança que nos dava, ficávamos em companhia e a comunicar mais um pouco pela noite dentro.

 Para tal as nossas cozinhas têm de ter espaço adequado para uma mesa de refeições, que aliás pode ser também espaço para preparar refeições, ou, em alternativa, pode existir um amplo espaço de cozinha e refeições, estimulantemente caracterizado como “sala de família”.
Naturalmente que para se dinamizar o convívio nos espaços de cozinha estes devem ter ambientes adequados e confortáveis, sendo que será importante que as condições de tiragem de fumos e cheiros, as condições de integração de máquinas e os seus potenciais ruídos e , globalmente, as condições de conforto ambiental aí proporcionadas, sejam devidamente consideradas pois de contrário as cozinhas não são atraentes para o convívio familiar e alargado.

Considerando estas matérias de conforto ambiental e funcional na cozinha e do desenvolvimento de espaços de cozinha convivialmente atraentes, importa salientar, desde já, que, frequentemente, são integradas na cozinha funções domésticas pouco compatíveis com a preparação e o servir de refeições; estamos a considerar, designadamente, as funções ligadas ao tratamento de roupa, que poderão e deverão ter espaços específicos de exercício, mas também algumas funções associadas a uma arrumação geral, por vezes também pouco compatíveis com uma sua grande integração no espaço da cozinha.

De certa forma estaremos aqui no âmbito do que se poderá considerar como algumas confusões em termos de misturas funcionais domésticas realmente pouco compatíveis, mas que encontram no espaço de cozinha e mal-usando-se simples justificações funcionais, o espaço que sobra e que dá jeito para libertar os outros espaços da habitação; isto, naturalmente, quando em quadros de áreas domésticas marcados por áreas e dimensões mínimas – na prática a cozinha, assim como outros espaços domésticos, “estrategicamente” considerados muito funcionais (como as chamadas “instalações sanitárias”) acabam por ser as zonas em que se reduzem, frequentemente, e logo à partida áreas e dimensões, justificando-se esta opção com aspectos funcionais, que na prática são muito limitados, porque ou não integram importantes funções como é o caso das refeições (ditas “correntes”), ou integram-nas mas com áreas frequentemente tão reduzidas e residuais que acabam por resultar na integração de minúsculas mesas em que cada um pode eventualmente tomar uma refeição, mas sozinho.

E estamos a pensar em refeições na cozinha, mas poderíamos pensar em passar a ferro na cozinha e no estar informal na cozinha e até – mas com todos os necessários cuidados de segurança – o brincar infantil na cozinha ou pelo menos o fazer os trabalhos de casa na cozinha; ou tudo isto numa cozinha/sala de família.

Esta tendência de “pequenez” dimensional que tanto afecta, frequentemente, a concepção do espaço de cozinha doméstico e que, aliás, tem até base regulamentar – regulamento realizado em pleno período funcionalista – acaba por afectar, frequentemente, o desenvolvimento de espaços de cozinha em habitações sem grandes limitações espaciais onde não há o suplemento funcional, ambiental e de alma para reinventar e retomar o fazer de “uma cozinha” que possa até constituir um dos corações caracterizadores da habitação.
    
O que se tem estado a referir sobre o que se pode designar o recuperar de uma cozinha estrategicamente multifuncional liga-se a um oportuno objectivo de quase-duplicação dos espaços conviviais e sociais domésticos, proporcionando-se que a sala-de-estar possa ser usada de variadas formas e de acordo com grande variedade de gostos e modos de habitar; com variados exemplos de apropriação entre os quais se referem a criação de uma zona de estar muito associada à leitura e/ou à televisão e/ou à audição de música, ou o desenvolvimento de uma sala de estar bastante formal e “de visitas”, marcada por mobiliário “especial”, ou ainda o desenvolvimento de uma zona de estar multifuncional e frequente usada como espaço de trabalho profissional e/ou como espaço de estudo dos jovens; e atenção que será sempre possível integrar numa sala como estas uma mesa (ex., escamoteável ou extensível) para se usar em refeições mais formais e em datas especiais. E naturalmente que este sentido de cozinha multifuncional é muito oportuno quando estamos a lidar com áreas controladas (“habitação de interesse social”).

Em todas estas perspectivas de uma renovada e adequada concepção do espaço de cozinha há um aspecto a sublinhar, que é vital e que se refere ao desenvolvimento, na cozinha, de um espaço doméstico verdadeiramente acolhedor, seja nos seus aspectos estruturantes e organizativos, seja no que se refere ao respectivo conforto ambiental (luz natural, higrométrica, conforto sonoro), seja no desenvolvimento de agradáveis relações visuais com o exterior da habitação e com os seus outros espaços interiores, seja em todos os seus respectivos aspectos de pormenorização e de equilibrada capacidade de apropriação (ex., sítio para introduzir vasos com plantas, sítio para introduzir um móvel de família, etc.).

Esta última matéria daria(dará!?) um artigo e, portanto, aqui não é desenvolvida, limitando-nos a referir que este sentido de expressiva  criação, na cozinha, de um espaço doméstico verdadeiramente acolhedor, está, frequente, nos antípodas, do que habitualmente se fazia – e não só em habitação de interesse social –, quando se desenvolviam espaços de cozinha estritamente funcionais em termos de dimensão, de ambiente e de relacionamento (que poderiam até ser designados como “instalações para cozinhar”, a exemplo das designadas “instalações sanitárias”).

Ainda sobre a cozinha há duas matérias que importa, desde já, apontar e que poderão merecer, depois, desenvolvimentos específicos: trata-se da cozinha para os idosos e da cozinha para quem pouco cozinha, porque compra habitualmente refeições pré cozinhadas ou até, raramente, toma refeições em casa.

A noção que parece prevalecer no que respeita à caracterização de uma cozinha bem adequada para pessoas idosas, é que ele deve ser tão segura e expressiva e funcionalmente adaptada no sentido de se facilitarem e “securizarem” as funções de preparação, apoio e toma de refeições, como tão expressivamente  agradável, atraente, funcionalmente estimulante e adequada e potencialmente convivial, proporcionando-se uma estratégica concentração de actividades domésticas na cozinha e, eventualmente, libertando-se, até, outros espaços da habitação para apoio a outras actividades e passatempos e/ou para um “concentrado” uso ocasional; numa perspectiva que acaba por poder concentrar os trabalhos domésticos diários num espaço mais circunscrito e facilmente mantido em adequadas condições de conforto.

Relativamente à cozinha para “quem não cozinha” ou pouco cozinha, apenas se refere que as opções de grande integração da cozinha num espaço multifuncional do tipo “sala de família” ou a expressiva caracterização da cozinha como espaço doméstico muito agradável e personalizável/apropriável (ex., mobiliário de família, quadros nas paredes, revestimentos calorosos, etc.) são opções que integram fortemente o espaço “tradicional” da cozinha  no conjunto da habitação, anulando-se a existência de um espaço funcional de “instalações para cozinhar” pouco ou nada utilizado e ambientalmente descontinuado relativamente ao resto da habitação.

Quanto a novidades e tendências nas cozinhas domésticas delas já aqui falámos um pouco, mas é interessante e oportuno ter em conta o actual crescimento do interesse na elaboração de pratos mais cuidados (a televisão está inundada de programas associados a esta tendência), uma situação que pode e deve fazer pensar e programar zonas de preparação de refeições potencialmente bem adequadas a uma cozinha expressivamente elaborada e associada ao uso de um leque alargado de ingredientes e utensílios (havendo de considerar a respectiva e adequada arrumação); e há outras novas tendências que podem e devem ter reflexo no desenvolvimento das cozinhas domésticas como é o caso da criação de pequenas garrafeiras, frequentemente associadas a exigências ambientais especializadas;
e a estas matérias relativas aos espaços e usos das cozinhas domésticas e às variadas formas da sua apropriação por diversas categorias de habitantes, voltaremos (mas nos artigos acima disponibilizados encontrarão, desde já, um amplo conjunto de reflexões).

Notas editoriais:
(i) Embora a edição dos artigos editados na Infohabitar seja ponderada, caso a caso, pelo corpo editorial, no sentido de se tentar assegurar uma linha de edição marcada por um significativo nível técnico e científico, as opiniões expressas nos artigos e comentários apenas traduzem o pensamento e as posições individuais dos respectivos autores desses artigos e comentários, sendo portanto da exclusiva responsabilidade dos mesmos autores.
(ii) De acordo com o mesmo sentido, de se tentar assegurar o referido e adequado nível técnico e científico da Infohabitar e tendo em conta a ocorrência de uma quantidade muito significativa de comentários "automatizados" e/ou que nada têm a ver com a tipologia global dos conteúdos temáticos tratados na Infohabitar e pelo GHabitar, a respetiva edição da revista condiciona a edição dos comentários à respetiva moderação, pelos editores; uma moderação que se circunscreve, apenas e exclusivamente, à verificação de que o comentário é pertinente no sentido do teor editorial da revista; naturalmente , podendo ser de teor positivo ou negativo em termos de eventuais críticas, e sendo editado tal e qual foi recebido na edição.

Infohabitar, Ano XIII, n.º 616
Inovar no espaço da cozinha doméstica – 4 artigos sobre o tema e um novo texto
Infohabitar
Editor: António Baptista Coelho
abc.infohabitar@gmail.com
Editado nas instalações do Núcleo de Estudos Urbanos e Territoriais (NUT) do Departamento de Edifícios (DED) do LNEC; Infohabitar, Revista do GHabitar (GH) Associação Portuguesa para a Promoção da Qualidade Habitacional – Associação com sede na Federação Nacional de Cooperativa de Habitação Económica (FENACHE).

Apoio à Edição: José Baptista Coelho - Lisboa, Encarnação - Olivais Norte.

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